Se encontraram, finalmente se encontraram, se abraçaram mas não se entregaram. Se olharam e por vários minutos pensaram, silenciaram qualquer medida drástica que poderia ser tomada naquele momento.
Ela teve medo de se entregar e não ser aceita como era. A
outra não se entregou por medo de se arrepender dessa mesma entrega. Se calaram, por fim, se perdendo daquilo que era quase impossível se perder. Em um colapso nervoso, em uma despedida, já que nada mais poderia ser feito e no rompimento certo e no tudo quase desfeito...Vem o diálogio:
Ela: Você realmente vai embora assim?
Outra: Eu vou. Percebi que depois de todo esse tempo não é mais possível ter o mínimo de compreensão entre nós, você não faz por onde. Por que eu haveria de sempre fazer?
Ela: Mas eu pensei que você me amasse.
Outra: Eu amo, e muito. Mas tenho preferido me amar primeiramente. São tantos traumas que eu não consigo mais amar tão sem limites como você precisa, porque eu também preciso que alguém me ame assim. Você me ama?
Ela: Eu amo. Você não sabe disso?
Outra: Sei. Só estou perguntando se você seria capaz de me amar sem limites por já me amar de alguma forma.
Ela: Não sei! Tenho medo de tudo o que foge do meu controle, acredito que nada do que eu possa controlar vá ser bom pra mim.
Outra: Você acredita que o amor pode ser controlado?
Ela: Não.
Outra: E como você diz que me ama? Entenda, você não pode me controlar, muito menos se controlar.
Ela: Mas eu te amo, é verdade.
Outra: Eu sei, mas eu queria entender como você me ama. É tão subentendido, tão escondido. Queria saber se dá mesmo pra se amar alguém assim.
Ela: Eu só tenho medo.
Outra: Medo do quê? Estamos no mesmo barco e se queremos isso, precisamos remar juntas.
Ela: Acho que eu não consigo mais remar, sou tão machucada que eu não tenho mais forças.
Outra: E como você quer que eu reme? Como você quer que eu fique? Não dá pra entrar nisso sozinha, eu não quero, eu não posso fazer isso comigo e nem você.
Ela: Eu só não queria que você fosse embora.
Outra: Eu só queria que você fizesse por onde pra que eu ficasse.
Ela: Eu quero que você fique.
Outra: E por quê? E pra quê?
Ela: Porque apesar do medo que eu sinto, é com você que eu quero ficar pra te fazer feliz.
Tentaram... Tentaram por horas entender algo que não era entendível. Buscaram profundas soluções pra tudo o que era, o que estava e tinha se tornado insolúvel. Choraram, partiram os corações na certeza de que poderiam colá-los algum dia novamente, mas já estavam tão neutros que desacreditavam de qualquer salvação pro que nascia: mais uma desilusão.
Outra: Quero alguém que me prove isso a cada dia e não somente nos breves momentos de alegria.
Ela: Mas eu posso melhorar, por você.
Outra: Quero que você melhore por você, não por mim. Isso seria anular sua vontade.
Ela: Não estou entendendo onde você quer chegar.
Outra: Quero chegar no ponto crítico de qualquer relação: no quanto somos felizes e fazemos a outra pessoa feliz também.
Ela: Você é feliz comigo?
Outra: Sim. e você, é feliz comigo?
Ela: Sou.
Outra: E por que somos assim?
Ela: Porque você é exigente.
Outra: Como assim?
Ela: Você espera muito de mim e esse muito é um processo difícil.
Outra: Se sentir amado é sinal de exigência?
Ela: Não.
Outra: É só disso que eu preciso, e você não entende e não quer entender.
Ela: Então tá.
Outra: Tá. Agora eu vou.
Não se despediram, porque não queriam. Não acreditavam que toda essa história acabaria dessa forma, apesar de saberem que tudo já estava acabado. Mas não aceitavam, relutavam, se machucavam diariamente com a falta que a falta fazia. A
outra deu as costas pensando:
"Como eu queria que, nessa hora, você estivesse correndo atrás de mim e me impedindo de fazer isso.". E
ela, que tanto temia ficar sozinha, e perder a outra que mais queria, ficou olhando-a até perder de vista e pensando:
"Como eu queria que, nessa hora, você voltasse correndo me impedindo de aceitar a sua partida."
Por fim, choraram por noites e dias e nunca mais se viram...
Porque a vida fez questão de nunca mais cruzar os caminhos.