domingo, 31 de julho de 2011

Coisas e pessoas.


Tem coisas na vida que são raras. São raras porque vezenquando a gente encontra, perde, deixa passar despercebida ou simplesmente, por acaso, acha. Aquele brilho no olhar, aquele sorriso no rosto, aquele corpo tão gostoso de manter junto pra abraçar.

Raridade mesmo é coisa pequena, que se torna grande, que não traz problema e nem dilema. Raridade é coisa de gente consideravelmente adulta, mas que não perde a essência de criança, que se engana vez ou outra, mas que não engana. É o picolé preferido no verão, o cuidado em adubar a terra com a mão, ir contra toda uma multidão pra se chegar onde queria. Raridade mesmo é caminhar na rua e sentir um cheiro que te remete lembranças boas, é você ir comprar pão na padaria e ver que ele acabou de sair do forno.

Tem coisas na vida que são raras. Existem pessoas raras também. Raras porque vezenquando a gente encontra, perde, deixa passar despercebidas ou simplesmente, por acaso, acha. A gente topa nelas mesmo e nem sempre consegue enxergar o que realmente importa. Mas concorda, não se cansa e nem se esgota. É aquela que consola o choro, que não causa tumulto, oferece abraço, não te deixa levar desaforo pra casa.

É aquela que ri dos seus problemas antes de te ajudar encontrar uma solução, que te escreve cartas sem esperar respostas e que protege o coração. É aquela que liga de madrugada pra não falar nada e, ainda assim, dizer tudo só com a respiração, que fala por minutos, horas seguidas sem saber se você está ou não ouvindo.

Tem coisas e pessoas na vida que são raras. Sempre são. E vezenquando a gente encontra, perde, deixa passar despercebida ou simplesmente, por acaso, acha. Ou não.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O cansaço.



Cansei das ruas vazias onde eu não encontro nada daquilo que faça eu me encontrar. Me encontrar era o que eu mais queria, quando esse encontrar significa te encontrar bem, ali, na esquina, com um sorriso largo, um abraço apertado, me dizendo, assim, baixinho que eu estou mesmo protegida.

Cansei de caminhar e procurar alguma coisa que me faça dar um sentido espetacular na vida. Achar era o que eu mais queria, quando esses achar significa achar aquele caminho que cruza a sua vida com a minha, com botões de flores, espinhos, obstáculos e todo aquele céu infinito que se tornava tão pequenino diante de tudo o que sentíamos.

Cansei de todas as bocas, calores, olhores, toques e sentimentos mais distintos que as outras pessoas me ofereciam. Esse todo que me era dado sempre foi pouco demais, uma vez que o pouco que eu mais queria estava do outro lado do estado e que se tornaria o tudo do muito se, por mim, pudesse ser transponível, tocado, dilacerado, tanto quanto tudo o que eu sinto por aqui rasgando o peito, me deixando sem jeito, mas mesmo assim me fazendo sorrir.

Cansei de procurar você em cada lance, mesmo de relance, mesmo quando eu entro em transe. Cansei de te achar e não te tocar em nenhuma das coisas que estão ao meu alcance. Cansei de gritar no mudo na tentativa de que ele ultrapasse todas essas estradas, pontes, ruas que me separam de você e que nos junte além de todos os silêncios em cada uma das ligações, quando eu fico com o coração na mão junto com o telefone.

Eu só cansei de todas as coisas desse mundo que não tem você. Eu só cansei de gritar no mudo. Agora eu quero é gritar alto, o mais alto que eu puder, porque o amor que eu carrego aqui não pode mais ser calado e nem machucado. Esse amor, todinho, que tem te esperado, te desejado e te cuidado, mesmo de longe, mesmo cansado de tanto amar em silêncio e não saber mais pra onde expandir mas que eu guardo aqui pra viver a vida inteira com você do lado, sem mais cansaços. Compreende?

sábado, 4 de junho de 2011

É.


Sem jeito. É assim que a gente fica quando não entende direito todas as coisas que apertam e alegram o peito. Dá vontade de dizer tudo. Vontade de dizer nada. Vontade de correr o mundo por qualquer estrada. Assim mesmo. Correndo. Andando. Tropeçando. Caindo. Levantando. Se esforçando ao máximo para encontrar qualquer canto que tenha sua voz, seu sorriso, seu aconchego e até mesmo seu pranto.

É. De todas as hipóteses possíveis, se tornou amor. E não! Não me negue, nunca, sentir todas essas sensações que você me causa todos os dias, por favor. Não. Eu quero que você entenda bem que é isso que gira, move e finda toda a minha vida. Assim. De graça. Na raça. Na massa mesmo. Dá vontade de mudar os planos. De largar tudo. De te encontrar em algum lugar mesmo que ele seja no fim do mundo. Não importa! É tanto amor que eu sinto que às vezes tenho vontade de tentar amar menos, só pra conseguir amar mais um pouquinho.

Fazer o quê? Traiçoeiros são os nossos caminhos que nos fazem correr para longe, durante muito tempo, do nosso ninho. Mas que com a mesma velocidade nos fazem voltar com um largo sorriso. É bom sentir que tenho você comigo, mesmo que algumas coisas se percam, mesmo que o pouco do muito que já tivemos tenha se perdido. É melhor ainda quando, juntos, reconstruímos. Sim, estamos construindo pontes, estradas, caminhos. Estamos reconstruindo sentimentos, vontades, e aqueles sorrisos amarelos, quebrados e que mesmo assim continuávamos sorrindo.

Tem ficado tudo inteiro, não é mesmo?
Acho que sim e tenho tomado muito tento para não perder nenhum momento e muito menos te perder de vista.

domingo, 24 de abril de 2011

Tudo o quê.


Tudo o que eu trago dentro de mim, tem um motivo, uma explicação. Às vezes fica muito subentendido, perdido na multidão. Mas, tudo o que eu trago é para você. As palavras, os sentimentos, os sorrisos e toda e qualquer ação. É tudinho para você que é capaz de me desarmar, me atirar e me deixar, assim, em meio ao nada, mas ao mesmo tempo com tudo nas mãos.

Você. Você não sabe como é difícil. Aliás, até sabe, mas as posturas que adotamos com o passar do tempo, e olha que nem faz tanto tempo assim, fazem com que o pensamento dê voltas e voltas, que sobrevoe o nosso mundo e tantos outros mundos à volta. Dá vontade de mudar de lugar. Eu sei. Mas quando penso em mudar, penso em todas as coisas que eu sinto por você, em todas as coisas que eu ainda quero buscar respostas para entender. Como, por exemplo, por que eu sinto que é com e tem que ser você?

Tudo o que eu espero, eu espero de mim, não de você. Na maior parte do tempo me pego pensando, planejando, buscando coisas para te envolver, para te encontrar, para te ter. Mas, tudo o que eu espero, de mim, é para você. A força de vontade, a cumplicidade, a verdade e tudo aquilo que tento alcançar para nunca te entristecer, para ter sempre o seu sorriso e continuar seguindo adiante hoje, amanhã e sempre, porque é para valer. Tem que valer.

Eu. Eu sei o quanto as coisas vão tomando formas diversas e nem sempre a gente consegue ver o Sol raiando pela janela. Fica tudo tão turvo. A vontade de sumir impera. De fugir para onde não hajam mais tropeços e muito menos quedas. Nós queremos, mesmo, é um lugar que esteja em, e seja, paz, para repousar. Eu digo que eu quero o seu peito no meu peito para me completar. Porque é o que me falta, todos os dias.

Tudo o que trago e espero, são novos dias, novos ares, novas coisas...
Que eu não guardo para todas as pessoas, mas que guardo para você que me tem trancada a sete chaves no seu peito, que também é meu peito, de alguma forma... Entre tantas outras, é você, sempre.

Meu beijo.

terça-feira, 8 de março de 2011

O amor.


Às vezes dá sono, mas eu não consigo dormir. Praticamente eu nunca durmo, uma vez que descobri o gosto de ficar acordada esperando o dia nascer e sorrir. Me disponho à insônia que me visita, sendo noite ou sendo dia, me trazendo juntamente você no pensamento, no trago do cigarro e na risada incontida de saber que você também tem insônia, que você também está aqui.

São noites mal dormidas. Péssimos hábitos. Apegos com a rotina. É essa coisa de assaltar a geladeira de madrugada, quando a fome de alguma coisa - ou alguém - bate e não pode ser completamente suprida. Eu sei. A gente sempre sofre um pouco, rói a unha e fica roendo, roendo, roendo, roendo e às vezes nem percebe que machucou e que fez ferida. É difícil tirar do foco o que sempre foi ele. É difícil tornar você, que eu tanto quis e sonhei, como algo um pouco mais morno para não te assustar e não me assustar também.

É tudo tão antigo e ao mesmo tempo tão novo. Tenho vontade de contar todas as coisas que aconteceram comigo em todos esses anos que nos afastamos, mas é muita coisa. Também sinto uma vontade incontrolável de te fazer milhões de perguntas, ficar com medo de cada resposta sua e mesmo assim querer saber de você o tempo todo. São muitos sentimentos indefinidos por aqui e outros tantos tão definidos quanto a sua existência dentro de mim, quanto a minha existência dentro de você.

De qualquer modo, aqui é como um osso que sempre esteve fraturado e que agora está exposto a todo esse mundo novo que temos descoberto a cada dia relembrando todas as coisas feias ou bonitas que passamos, assim como nos permitindo a sentir todas as outras coisas que não conhecemos e que podem ser lindas e findarem nesses olhos tão grandes, tão lindos, de menina-desprotegida-que-não-sabe-o-que-sente-direito-a-não-ser-uma-enorme-alegria-de-estar-perto-de.

Sinto um sono terrível, mas a insônia não me deixa. Uma forma de me manter ligada aquilo que eu não quero mais me desprender. Quando o assunto que ronda a minha cabeça se trata de você, as circunstâncias mudam, o sono espera, o cigarro demora mais para acabar e tudo porque você tem o poder de mover meu mundo inteiro em um estalar de dedos: Clack! Esse é o seu momento. Clack! Esse é o nosso momento tão certeiro, embora incerto, quanto o sentimento mais verdadeiro do mundo: o amor.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Mãos dadas.


De mãos dadas. Era assim que a vida funcionava, era assim que a vida se fazia mais feliz. Passo a passo. Respeitando o caminhar de cada um, abrindo os espaços, dizendo sim. De mãos dadas era como se o adiante fosse a próxima parada da gente, assim, tão radiante, tão contente.

Muitos caminhos nos foram dados. Cada um resolveu tentar seguir pr'um lado. Você pra esquerda e eu pra direita, claro. Mas no centro de tudo, sem ter o certo ou o errado, naquele ponto, onde tudo começara, era onde a gente sempre encontrava mesmo tentando se desencontrar.

Aquele sorriso amarelado, no canto da boca, porque faltavam as palavras. O abraço desajeitado, tentando se encaixar naquele emaranhado de braços, que se tremiam inteiros, na tentativa de deixar os corações colados. Eram tentativas de se resgatar o que estava se perdendo. Eram tentativas de se entregar àquilo que nem mesmo tinha começado, tentando viver a oportunidade e desfrutar o momento.

Eu sempre impliquei com você e não porque eu tinha motivos pra implicar, mas porque eu sempre gostei de tentar te tirar do sério, mesmo sabendo que em troca eu receberia um sorriso sincero, um olhar esperto que me fitava em cada passo que eu tentava dar quando eu não tinha a sua mão pra segurar. Você me via tropeçar e não me ajudava a levantar. Ria das minhas tentativas de consertos e sorria com todos os meus acertos, se irritava com os erros mas não se abatia. Sua superioridade sempre me deixava sem entender até que ponto você era superior ou se fingia ser só pra não "tremer na base" quando eu chegasse perto de você.

De mãos dadas era tudo diferente. Dentro do mundo que a gente vivia, sempre existiu um mundo que era só da gente e que parece que foi se desfazendo pouco a pouco em meio às latentes que não sabíamos da onde surgiam, mas que tinham forças suficientes pra tomar conta da gente, que éramos tão dois e ao mesmo tempo tão um por sempre transitarmos em uma igualdade tão diferente e, ao mesmo tempo, exigente. De mãos dadas caminhávamos pra qualquer lugar.

A gente se encontrava, assim, em um dia qualquer, pra bater papo e tomar um café. Falar sobre a vida, os segredos, os amores e os desafetos. Contar cada cicatriz que você tinha e ainda tem. Cada curativo que eu tive e ainda tenho e que troco periodicamente na tentativa de superar. A gente sempre se ajudou. Nunca se deixou. A gente até tentou... Mas quando a minha mão encontrava com a sua e vice-versa, a gente sabia o que fazer, o que era a coisa certa.

De mãos dadas a gente esquecia todos os traumas dessa vida.
Mas nunca se esqueceu. Nunca se esquecia.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Never and ever.


Sem rumo. Era assim que eu me sentia. Como se alguma coisa sempre me faltasse, como se alguma coisa sempre me doesse. E doía. Era tanta saudade que eu nem sabia mais onde colocá-la, porque não existia mais lugares onde ela cabia. Eu sabia que não seria possível tirá-la de mim e eu também não sei se era o que eu gostaria que acontecesse. Era só saudade. Sempre foi só saudade o que eu senti e hoje eu vejo o quanto isso tem os dois lados da moeda, o meu e o dela, e o que mais tiver direito pra ser. Cara ou coroa. Questão de sorte. Bom senso.

Não sei! Mas era sempre saudade, sempre vou saudade e vai continuar sendo. Tudo dá saudade. Tudo me lembra o ponto dessa saudade que eu não quero esquecer, mas que talvez esqueça. Reluto diariamente pra tirá-la do foco. Mas quando o assunto é saudade, é só você que me vem na cabeça. Não tem nenhum caminhar que eu faça que eu não encontre alguma coisa que você goste ou que me remeta à você. É o cheiro da cidade, das esquinas, dos bares, dos cafés e todos os lugares em que passamos tem seu cheiro, seu gesto e todo o seu movimento. O sorriso atrapalhado que escorregou na porta do banheiro. O caminhar tonto ao descer as escadas. O movimento dos cabelos ao atravessar toda uma avenida, embaixo de sol forte e calor excessivo. O jeito de falar esboçando um beijo contido. A forma de colocar as mãos na mesa esperando um carinho. A forma de olhar querendo uma boa conversa e, talvez um novo amigo.

Impossível não sentir saudades. Onde quer que eu vá, eu te sinto, eu te respiro, eu te vivo mesmo sem querer deixar isso tão às claras. Tudo acaba sendo ilusório tanto quanto a própria ilusão em si, porque eu te projeto ali comigo. Essa era a minha vontade. Eu queria mesmo você comigo. Mas agora eu não posso pensar ou criar qualquer expectativa em cima disso. É você aí, e eu aqui. Acabaram-se as rimas e todos os meus trocadilhos. Estou em perigo! É tanta saudade que eu nem eu mesma consigo lidar com isso. E não é por falta de vontade, mas sim por sentimento, por instinto, por ser tão impossível controlar já que ficar "debaixo das suas asas" era o meu melhor abrigo.

Eu poderia continuar colecionando decepções e desamores. Em casa gole de café tomado e um trago de cigarro, poderia continuar sentindo a garganta arranhar e se acabar diante de tantas dores, sem pudores, que eu mesma me causei por querer tirar você do foco. Mas eu repito: eu não consigo. Pra que vou ficar me enganando por mais anos e anos e anos e anos e anos, sendo que eu vou acabar parando no mesmo lugar uma vez que é o que eu sinto? Se é você que eu quero comigo, pra que ficar insistindo em todos esses caminhos desmedidos, iludidos por mim e por todas as outras pessoas que possam cruzar o meu caminho?

Dava pra fazer certo. Eu sei que dava. Eu sei que eu tenho a capacidade de fazer qualquer pessoa feliz, mas não as quero comigo. Não acredito que escolher os caminhos mais fáceis seja o melhor destino, como desacredito na possibilidade de que o impossível é que nos encanta. No final das contas, só iludimos e nos amarguramos e acabamos reféns de todas as lembranças, que são tantas, de promessas não cumpridas e de palavras que lançamos ao vento sem a mínima esperança.

Conheço muitas pessoas por aí, mas não fazem tanta diferença. É você quem eu sempre quis pra mim mas que, agora, mais do que nunca, criou uma distância maior entre a gente... Intransponível. E o que me resta diante de todos esses fatos é engolir o gosto do café amargo descendo pela minha garganta, junto com um trago de cigarro quase que intragável, pensando que poderíamos ter feito certo pra dar certo. Mas que não fizemos, porque não poderíamos, nada poderia.

Mas uma coisa é certa, quando dizem por aí que o fim do amor é NEVER.
Ever.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A gente é assim.


A gente é assim. Só aprende tomando na cara, quando não tem saída e nem entrada. A gente não gosta, mas se obriga a aprender na raça. Sente tudo até a última gota, até o último segundo do minuto que quase se completa, que vai avisando sua chegada. A gente até tem as pessoas certas pra se gostar, mas a gente gosta mesmo das pessoas erradas, daquelas que dilaceram a gente por inteiro, que fazem a gente perder o fio da meada.

A gente é assim. Gosta de complicar as coisas, de triplicar o tempo pra depois ficar se perguntando porque é que o tempo demora pra passar quando o que a gente mais quer é que ele passe rápido pra gente encontrar aquele ou aquela que nos faz suspirar. A gente gosta de se machucar, se martirizar e por esse motivo a gente sempre fere pra ser ferido de volta e tentar entender porque é que a gente erra tanto e ainda faz questão de continuar errando e de sempre errar. A gente sabe que faz parte errar, mas errar o tempo todo faz a gente se limitar a uma proporção da vida, que se torna tão pequena, que dá até desgosto de olhar.

A gente é assim. Entra em buracos tão tortuosos que até estranha. A gente nunca entende o que nos leva a tal caminho, mas a gente o percorre mesmo assim na esperança de encontrar uma luz no fim do túnel, um pensamento menos incessante, alguma bebida destilada, uma comida boa e barata ou até mesmo alguém, no meio do dia, de frente pro acaso que deixe a gente feliz. A gente quer tudo de uma vez só, mesmo sabendo que é impossível ter tudo assim. A gente vai desistindo de ser o que é e vai se moldando aquilo que a vida quer que a gente seja, isso inclui o ser feliz ou infeliz. Só depende da gente. É o que dizem.

A gente é assim. Não sabe lidar com sentimentos. Com nenhum tipo deles. A gente pensa que sabe perder, mas perder, pra gente, é sempre o maior sofrimento. De todos. Seja do bichinho de estimação que morreu. Da carteira antiga que não lembra onde colocou. Da carta que marcou a sua vida e que não sabe onde jogou. Do amor que te trocou por um amor pior ou melhor. Do trabalho que você se demitiu pensando que teria outro ao seu dispor. Do chinelo preferido que arrebentou. Do uniforme do colégio que sua mãe jogou fora. A gente acha que sabe lidar, mas no fundo mesmo a gente só tira do foco que é pra não correr mais o risco de se machucar, de se mutilar, por saber que não vai levar a gente a nenhum lugar.

A gente é assim. Fica pensando em um monte de coisa séria. Um monte de coisa boba. Um monte de coisa certa. Um monte de coisa à toa. A gente fica pensando no que poderia mudar na nossa vida. No que deveria realmente ter entrado, ou nunca ter entrado, e saído do nosso destino. Mas a gente não tem poder pra manipular essas coisas e com o passar do tempo a gente vai ficando triste por ter perdido coisas e pessoas que não tinham o menor sentido pra isso ter acontecido. A gente vai afunilando o nosso funil da vida e, com isso, a gente vai tentando filtrar tudo o que é bom e ruim, porque a gente vai entendendo que a gente tá nesse mundo pra somar e não pra dividir ou subtrair.

A gente é assim. Todos os dias. A gente é tão inteiro que fica se fazendo de metade pra ver se encontra o que a gente acha que falta na gente em outro peito e, assim, pelo meio do caminho. Mesmo sem saber se a gente vai encontrar isso ou aquilo. A gente é tão inteiro que fica se fazendo de meio só pra não ser tão inteiro todos os dias por medo do que pode sobrar da gente no final da gente mesmo. A gente não sabe de nada, mas ainda assim a gente acha que sabe de tudo e continua nessa besteira de achar que sabe de tudo e de todas as coisas ao mesmo tempo. A gente acha tanto que é dono da razão que acaba sem razão alguma quando o assunto se trata das coisas do coração. É. Essas coisas mesmo que a gente não é capaz de entender e às vezes nem de sentir, mas acha que sim.

A gente é assim. Vai tentando sorrir ao longo do caminho todo. Dessa vida tão absurda. Que assusta e que ao mesmo tempo é tão linda. Por mais sozinhos que a gente esteja. A gente sente, de alguma forma, que não vai tá sozinho nunca. A gente é assim. Uma mistura de milhões de nãos, seguidos de sins. Procurando motivos, razões, circunstâncias, pessoas e tudo aquilo que faz da gente ser tão gente como qualquer outra gente por aí.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Roda gigante.


Quando a vida fica nesse sobe e desce, girando sempre em volta de uma mesma coisa e em um mesmo lugar, eu enjoo. É tipo roda gigante que nos dois primeiros minutos é interessante e depois vai perdendo a graça e você não vê a hora dela parar. Ao contrário da vida que nunca para e que me obriga, sempre, a encontrar uma válvula de escape pra que eu suporte o mínimo do insuportável que me cerca e que nem sempre eu sei lidar.

Ultimamente tenho me sentido assim: com os pés fora do tocável, como se eu vivesse eternamente nessa roda gigante que nunca para. Me dá uma vertigem gigantesca quando olho pra baixo e vejo que tudo o que eu quero está inalcançável e quando olho pra cima não vejo nada do que eu poderia alcançar, dando certo algum dia. É engraçado quando uma coisa tem tudo pra dar certo e a gente faz questão de não querer, ou até querer e fazer errado. É infeliz quando uma coisa tem tudo pra dar errado e a gente faz questão de querer mais ainda e até fazer tudo certo mesmo que não acabe com um final sem fim.

Nada do que esteja muito alto eu faço questão de alcançar. Gosto do que está ao alcance das minhas mãos, assim, de graça, sem pressa e sem nada pra cobrar. Gosto do que olha no olho. Gosto do que eu posso segurar e do que me segura. Não gosto de nada que foge daquilo que eu espero, e quando foge... Quem foge primeiro disso tudo sou eu por não querer arriscar, em ares incertos, um solo totalmente certo que demorei pra encontrar.

Quando a vida fica nesse sobe e desce, rodopiando com todas essas pessoas, coisas, sentimentos e lembranças... Me dá vontade de. Deixa pra lá. Ninguém tem culpa disso. Eu tenho medo de altura, isso é verdade. Mas sei que sou à altura da vida, ou até um pouco mais. Porque é o que eu quero e acredito, mesmo que não faça sentido, mesmo que ninguém leve a sério. Tanto faz! Eu levo.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Infinito e amor.

Eu era o infinito. Você era o amor. Eu me desarmava diante disso. Você se perdia quando encontrava meu instinto avassalador. Eu precisava ser infinitamente infinito pra você me notar. Você precisava ser amavelmente amor pra me fazer paralisar. Eu quis ser tão infinito que, nele, fiquei. Você quis ser toda amor que, pra lá, se foi. Eu era o infinito. Você era o amor.

Eu era tudo em tom menor, arranhado, esgotado, desbotado e só. Você era tudo em tom maior, melhor, mais limpo e sem nós. Eu fui o infinito. Você foi o amor. A dupla perfeita, a combinação que saíra ilesa de toda e qualquer dor. Fortalecidos pelo tempo. Relembrados pelo momento de se rir junto, de cortar os laços, de ter coragem de enfrentar o vento que levantava todos os pós. Que sorte a nossa andarmos juntos, sem precisar escolher entre nós ou o mundo que cortava os planos sem dó.

Eu era o infinito. Você era o amor. Nós éramos o nada que se transformava em tudo, diante dos olhos que nos viam, juntos, separados, colados, remendados, perambulando pela vida. Nós éramos o orgulho. Nós éramos o ciúmes. Nós éramos a reconciliação. Nós éramos a tarde que caía. Nós éramos o companheirismo. Nós éramos as brigas. Nós éramos os becos sem saídas. Nós éramos a constante alegria dos dias e da vida.

Eu era tão desajeitada, tropeçava nas palavras, não sabia decifrar o que cada palavra sua, em forma de sorriso, me falava. Você era tão animada, sentava pra me ouvir tentar falar e sorria como quem tinha certeza que não entenderia, mas ainda assim se orgulhava da minha tentativa falha em demonstrar.  Eu ainda sou o infinito. Você ainda é o amor. Que mudou de tom, de voz, de cor. Mas ainda somos o que sempre fomos, na essência do ontem que se transforma em hoje e se resulta no amanhã tão incerto quanto o nós que se divide em dois.

Eu era o infinito. Você era o amor. Eu fui esse tempo todo o infinito de amor que você nunca deixou pra depois. Você foi esse tempo todo o amor infinito que tempo algum superou, pois... É.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Tão perto, tão longe.


Tão perto. Tão longe. E essa saudade que consome! Não penso direito no que, no por que, no como. Mas sei de quem. É de você. São tantos, e ao mesmo tempo poucos, quilômetros me separando de você que eu nem encontro palavras pra tentar esconder o que já não se esconde, o que eu procuro todos os dias na esperança de que você se renda, se encante e me encontre.

Tão perto. Tão longe. E essa angustia aos montes! Quase os mesmos olhos, os mesmos toques, os mesmos pensamentos e tantas discordâncias. São inúmeras diferenças que nos aproximam, mas são através delas que concordamos numa coisa ou outra. Sua resistência em me dizer, em tentar demonstrar, utilizando meios como esse pra me ludibriar. Minha fragilidade se mostra pra você como ferida exposta, que incomoda e te faz dar voltas e voltar sem entender por que.

Tão perto. Tão longe. E esse sentimento que se expande! Não controlo a intensidade do que sinto, escrevo e penso. Mas controlo a vontade que sinto de ficar perto de você a todo o momento. Tomo tento necessário pra não invadir o seu espaço. Eu sei. Você sabe. Assim evitamos maiores sofrimentos. Compartilhamos alguns momentos, in-oportunos, desatentos. Alguns passeios in-esperados. Entrego o que eu acredito nas mãos do acaso que, às vezes, nada por acaso junte você comigo, eu contigo, formando um laço.

Tão perto. Tão longe. E esse emaranhado de coisas que dão fome! Devoro tudo o que convém, vomito em palavras tudo aquilo que o meu estômago não digere, que causa desconforto, que alivia a voz e desata os nós da garganta. Que espanta. Que encanta. Que canta qualquer coisa que me faça sonhar com o dia em que você vai se declarar. Vai se enfrentar. Vai me olhar. Vai me levar junto com você pra onde quer que você decida ir e ficar.

Tão perto. Tão longe. E essa vontade que nunca some...
De poder ficar mais perto. De não te ter, assim, tão longe.

sábado, 22 de janeiro de 2011

O que eu escrevo.


O que eu escrevo são histórias que eu conto, que me contam, que eu sinto e que eu invento, que eu desvendo. São os inteiros das metades que me compõem e que insistem em permanecer, sobressair e invadir e render todo e qualquer pensamento. Escuto cada coisa que me contam, e que me conto também,  na mesma facilidade em que crio, sinto, minto só pra me proteger.

O que eu escrevo são histórias diversas, de momentos inversos, reversos, impostos, dispostos, incógnitos. É tudo o que eu não vejo, o que eu não toco, o que eu não percebo, mas eu sinto. Dizem que sentir também é uma forma de saber. E por que sentir não poderia ser, também, uma forma de saber quem é você? Já me fiz essa pergunta milhares de vezes e já me dispus a contar histórias sobre nós que nem mesmo ainda existiram, mas que eu faria qualquer coisa pra acontecerem. São os nós de nós que eu nunca desatei, que nunca soube como, por não saber se realmente existem, por não saber se são só meus ou se por algum momento também são - ou foram - seus.

O que eu escrevo é o que protejo em forma de palavras - todo o sentimento que eu sinto por você - e que nunca sei como demonstrar, que nunca saberei como dizer. Não há qualquer bebida que eu beba que me faça perder a timidez que eu sinto quando eu olho pra você. As palavras podem até se soltar com mais facilidade, enquanto falo, me embolo, ameaço e quase caio. Tropeço no que eu sinto quando falo, ou tento, por não saber até que ponto você acredita na veracidade do que eu escrevo, do que eu tento, do que eu sinto tanto medo quando se trata de você.

O que eu escrevo é exatamente o que eu sou, perto ou longe de você. São essas palavras, todas, jogadas ao vento na esperança de alcançar o seu coração pra te fazer entender que apesar de todos esses anos que eu te espero, talvez em vão, não me farão deixar de sentir o que eu sempre senti, desde a primeira vez que eu te vi... Olhando pra mim tão encantadamente e eu olhando pra você tão apaixonadamente, sem nos preocuparmos com o que ainda poderia vir, com o que poderia acontecer.

O que eu escrevo é você inteira, em mim.
Em cada parte do meu corpo, da minha alma, do meu coração...
O que me faz feliz.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O fogo.


A gente sabe que o fogo queima e sempre pensamos no por que de não deixá-lo queimar. Mas deixamos. Não nos esforçamos pra apagá-lo. Ficamos nostálgicos com as chamas tão atraentes que mal somos capazes de ver o quanto as coisas se perdem ao se queimarem. O fogo é destruidor de provas, mas nunca desbota aquilo que um campo fez, um dia, florescer tão livremente, dependendo só do que a gente sente pra fazer crescer.

O fogo chama, além de ser a própria chama de qualquer pessoa que não se limita mas que sempre se assanha diante do perigo que a inflama. Queima o dedo, a pele, os cabelos, a boca e o que mais tiver ao seu alcance. Não se limita em somente queimar, mas também deforma histórias, lembranças, personalidades e o que mais tentar estar adiante. Não reage, mas age da maneira mais inesperada. Dá vontade de sair correndo, pular pela janela, pedir socorro na sacada. O fogo arde, ao mesmo tempo que congela, te queima, te deforma, te esfria e te larga. Te deixa marcado dos pés à cabeça. Cada cicatriz é uma marca, lacrada, lembrada de alguma forma, em algum momento da sua jornada.

A gente sabe que é perigoso. Mas mesmo assim se deixa queimar. Se sucumbe ao que ele quer. Com vodca, nicotina, pinga e o que mais te oferecerem. A gente sente correndo pelas nossas veias, em todo o corpo e não consegue parar. Dá vontade de tirar a roupa, de sair pelado, de trocar calor ou até mesmo tomar um banho gelado. Nunca sabemos pra onde cada fogo vai nos levar ou nos deixar, mas sabemos que é bom por mais marcados que já sejamos por ele, por mais insaciável que ainda será. Queremos mais.

O fogo a chama nas entranhas, na cama. Daquele ou daquela que ama tão arduamente a ponto de se queimar por completo. Sem medir esforços, evapora nos poros, germina os solos. Fogo é a dureza de atravessar todos os dias com uma queimação gostosa que não se acaba, é o gás da vida, apesar de dolorida, tão alegre e distinta. É o que diferencia todas as pessoas. O que intensifica relacionamentos, memórias e rotinas. O fogo queima. Queima tudo que se encontra pelo caminho. Devasta corações, corpos juntos, separados, sozinhos. Não há perdão. Não há caminho alternativo. Ele te alcança. Te lança. Te acerta. Te encanta. O fogo queima. Você. Eu. Nós. Inteiros. Apenas com uma chama.

O fogo queima qualquer coisa que encontra. As chamas não dão trégua. Alguns deixam o fogo queimar e aceitam que ele queima. Outros tantos correm pra longe, até ficarem cansados e se renderem à tudo aquilo que amedrontam e que, talvez, engana.

É verdade! O fogo queima e as cinzas que ficam se tornam lembranças de sentimentos que não se apagam. De você, que não me roubam nunca. De mim, que ainda, e sempre, te ama, em meio às chamas por todos os lados.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Apesar dos (A)pesares.


É o que acontece. Difícil organizar o pensamento quando o coração entra em conflito a todo momento. Sensações de perda, abandono, sofrimento, apego, desapego, envolvimento, ilusão, impotência, engano, imensidão. São essas, todas, que me invadem por dentro, me deixando com medo e à mercê do desatento.

Ser humano é coisa complicada! Exigimos tantas coisas dos outros quando, ao mesmo tempo, somos incapazes de exigir coisas de nós mesmos. Digo exigir porque somos exigentes, o tempo todo, e deixamos quem mais nos importa pra outro dia, sempre pra depois: o nosso próprio eu, perdido em becos, largado aos montes pelas ruas, perdidos no breu.

É o que acontece. Vamos colecionando todo tipo de coisa que nos são possíveis: histórias, lembranças, dores, momentos, infância, amores, discordâncias e todas as concordâncias. Vamos assim, nesse ritmo, como se fôssemos todos carros-cofres, guardando as coisas mais preciosas que temos sem nem mesmo saber se são tão preciosas como gostaríamos que fossem e que fôssemos pra elas também.

Ser humano é uma caixinha de surpresas! Nos surpreendemos diariamente com quem aparece, com que nos deixa, com quem apela, com quem deseja. Digo surpreender porque somos surpreendidos, tanto quanto surpreendentes, insistentes, envolventes e ao mesmo tempo deprimentes. Somos capazes de despertar o melhor e o pior em alguém, como por alguém. Sem pensar em nada. Sem pesar ninguém.

É o que acontece. Acumulamos tudo aquilo que não somos capazes de jogar fora. Talvez por medo. Talvez por apego. Talvez por falta de oportunidade quando o seu melhor amigo fica sendo o contratempo. O coração aperta. Nos desfazemos. Dificilmente nos refazemos. Mas acreditamos, sempre, no fato de conseguir aparar as arestas que são obtidas ao longo do tempo. Bobagem. Só assim que crescemos, mesmo em meio à tanto caos e desordem no que pensamos e escrevemos.

Ser humano é particular! Somos tão peculiares. Nos gestos, nos jeitos, nos olhos, nos beijos, no dialogar, no movimento, na dança, no abraçar, na vida, na trama - com ou sem drama -, no amar, no rejeitar, no desespero. Na hora de falar mais alto, quem ganha não é o grito, mas sim o sussurro de quem, delicadamente, sopra no teu ouvido que: "Apesar de todas as nossas diferenças, distâncias, separações, perdas, dores, sonhos, ambições, pessoas, sentimentos, obstáculos, desordens, contratempos, inseguranças, medos e receios... Quero estar contigo e comigo também. Sem metades. Sempre inteiros."

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

365 motivos.


Tive 365 motivos pra esquecer o ano que se encerrou. Ainda não os esqueci, mas pouco a pouco vou me desprendendo de tudo aquilo que, definitivamente, ficou e, com ele, acabou. Os amores mal resolvidos, as promessas falidas,  os amigos distorcidos, os conhecidos que se colidiram, os sentimentos distintos, os planos que saíram da estrada.

Tive 365 motivos pra crescer. E eu cresci. Não tanto quanto eu deveria crescer, mas consegui na medida em que me cabia, da maneira que fui entendendo as coisas que me aconteciam e que ainda iriam acontecer. Não obtive um terço das respostas que eu gostaria, mas me enchi de questões interiores que eu precisava, uma hora ou outra, resolver.

Eu sofri. Eu chorei. Eu vivi. Eu conheci. Eu gostei. Eu admirei. Eu me decepcionei. Eu aprendi. Eu me superei. Eu me encontrei. Eu me perdi. Eu desejei. Eu sonhei. Eu realizei. Eu construí. Eu planejei. Eu caí. Eu levantei. Eu sorri. Eu quis. Eu me apeguei. Eu me desapeguei. Eu me apaixonei. Eu liguei. Eu não atendi. Eu procurei. Eu escrevi. Eu cantei. Eu conversei. Eu pensei. Eu decidi. Eu neguei. Eu aceitei. Eu morri. Eu voltei a viver. Eu tudo o que eu pude, todos os dias, com ou sem motivos.

Expectativas ficaram pra trás, junto com os sonhos impossíveis. Entender que ser mais pé no chão, alivia os sofrimentos que causamos desnecessariamente pro nosso coração. Mais uma ano começou, com 365 motivos novos, antigos, distintos. Pouco importa! O que importa são novamente os 365 motivos que temos pra acreditar que esse ano pode ser melhor, maior, mais feliz e cheio de novas esperanças, conquistas, pessoas e alegrias. São 365 motivos de possibilidades, de vontades, de responsabilidades com menos covardias.

São 365 motivos pra ter você, felicidade, caminhando lado-a-lado.
Pro resto da minha vida em todos os 365 dias que eu puder ter daqui por diante.