quarta-feira, 28 de julho de 2010

Paciência.

Quem disse que ter paciência é fácil? Acreditei por muitas vezes que se fôssemos mais pacientes, deixaríamos de ser tão intransigentes. Besteira. A medida que o tempo foi passando, fui percebendo que todo ser humano sofre de uma falta-de-paciência-constante. Já nascemos altamente doentes, digo doentes porque ser paciente ficou lá atrás, não importa mais, não é tão decente. Eu quero tudo na hora, eu quero tudo do meu jeito, com ou sem defeito. Afinal de contas, a vida não espera e, definitivamente, hoje somos mais apressados do que a própria pressa.

Me prendo nessas grades do que é ter paciência, no auge da história onde tudo-poderia-ter-um-pouco-mais-de-paciência-porque-o-mundo-pede-calma-e-um-pouco-mais-de-alma - e acredite, eu também peço -. Grades + Paciência. Seríamos, então, prisioneiros de nossa própria paciência quando o mundo inteiro se torna impaciente o tempo todo? Seríamos, ainda mais, prisioneiros de nossas expectativas por esperarmos tanto, quando, impacientemente, não queríamos esperar mais nada?

Complicado de se definir, uma linha tênue entre pensar e sentir.
Paciência? Onde é que eu deixei a minha?

domingo, 18 de julho de 2010

Laços.


Laços são assim, tem de todos os tipos, tamanhos, cores e tecidos. Uns chamam mais atenção, outros até passam despercebidos. Mas todos eles são bonitos. Conheço muitos tipos de laços: soltos, enredados, cegos, desfiados, mal cuidados.

Engraçado como colecionamos tantos. Existem laços na minha vida que eu já desfiz, laços que se desfizeram quando eu não queria desfazer, laços que se desbotaram e perderam o juízo, laços que reavivaram quando deveriam ficar quietinhos, laços grandes e que se soltaram no primeiro toque, laços pequenos que nem com reza brava se desmancha.

Tenho laços de todos os tipos. Coleciono-os sabendo de todo e qualquer perigo. Mas, fazer o que? Virou vício. Faço, refaço, ato e desato muitos desses laços e cada um que se vai, deixa um pouco em mim: seja na cor, na forma, na dor de ter perdido, quebrado ou descosturado. Passo, reparo, observo, disparo um olhar conflitante pra todos os outros laços que ficaram, fincaram e restaram em mim.

Coloquei meus laços preferidos dentro de uma caixinha e sempre abro-a pra olhá-los e sussurrar baixinho: "Apesar de todos os laços perdidos, ainda coleciono os mais bonitos!".

Repasso os olhos um a um, relembrando o quanto cada laço representou em minha vida, o quanto cresci em alguns aspectos e o quanto regredi em muitos outros. Alguns arrependimentos, confesso. E de todos os laços, fortes, fracos, coloridos e desbotados... O teu laço - que se desfez e se desfaz a cada dia - continua sendo o preferido, o guardado no lugar mais íntimo, onde ninguém mais possa tocá-lo, ferí-lo ou desfiá-lo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Esperançar.


A gente teima em ter esperança - o tempo todo e com tudo -. Acho engraçado a maneira como agarramos isso com tanta força na certeza de que uma coisa pode, e literamente vai, acontecer, assim, somente pelo fato de acreditar.

Ter esperança até que é bom: esperança pra sonhar, esperança pra realizar, esperança de ou pra amar, esperança de encontrar, esperança em ter, esperança em conquistar, esperança pra sorrir, esperança pra chorar, esperança pra voltar, esperança pra conciliar e reconciliar.

Regamos essa sementinha de esperançar todos os dias, sem saber se ela vai brotar, florescer ou simplesmente apodrecer e morrer antes mesmo de germinar. Mas regamos, continuamos regando e adubando na esperança de que tal feito vai se realizar, assim, num passe de mágica e em poucos segundos.

Me pergunto até que ponto ter esperança é bom. Talvez, a maior responsável em destruirmos todo e qualquer feito antes do êxito seja ela própria, já que na maioria das vezes nos decepcionamos por acreditar e sentir algo tão a finco e esse mesmo sentir acaba sendo nulo e a única vontade que te sobra é de desistir, oprimir, reprimir e por aí vai. Mas se ser esperançoso com algo ou alguém não fosse bom, muitas pessoas não seriam e penso que se esperançar-se fosse falho, qual seria o propósito dessa vida então?

Chego a conclusão de que a esperança só se é boa quando se tem chão. De que adianta se esperançar voando, caso você receba um não? De quê?

- Sei não, bobagem pura! Diria fria, pura e crua. Talvez até nula, um não.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Brincadeira de criança.


Me sinto perdida, é verdade! É tudo tão confuso quanto saber os nomes de todos os meus parafusos... São tantos. Sempre entendi a vida como se fosse uma "dança da cadeira". Que termo mais rídiculo pra definir uma vida - penso -, mas era assim que funcionava. As pessoas vinham enquanto a música tocava, rodavam em volta, ansiosas pra quando a música acabasse e quando ela acabava, os mais espertos sempre se sentavam e, assim, era mais fácil saber quem ficaria ou quem iria embora. Que método mais estúpido pra saber quem vai e quem fica na sua vida - penso novamente -, mas era assim que era, era assim que eu pensava.

Sempre achei que assim fosse mais fácil, mas é tão mais complicado. Afinal de contas, o que poderia dar errado? Era simples, a música rolaria, as pessoas brincariam e quem fosse mais ágil sentaria na cadeira. Uau! O que haveria de complicado nisso? Era um método tão antigo, brincadeira de criança, e nada eficaz pra se ter certeza qual o lugar que cada pessoa ocuparia. Ledo engano e quanto desengano veio junto com tudo isso! Não imaginaria o estrago que tudo isso poderia fazer em mim, porque essa mesma cadeira representava meu coração e não era qualquer um que poderia sentar, embora todos se sentassem e machucavam-me e torturavam-me e derrubavam-me e arranhavam-me e maltratavam-me e quebravam-me e...

Nada durou por muito tempo. Ninguém que era capaz de se sentar por ali, permanecia por muito tempo. Afinal de contas, era só uma cadeira. Quem é que haveria de querer ficar sentado em uma cadeira nada confortável e cheia de arranhões durante muito tempo? Dá um trabalho danado corrigir os defeitos, de levar pra o conserto, de prestar assistência. Queremos o prático, queremos o óbvio e se algo que temos se quebrar, jogamos fora ou deixamos de lado. Fazemos entulhos de emoções, um amontoado de coisas más resolvidas que jamais seremos capazes de resolver, de entender ou até mesmo de escrever.

Hoje a música não toca mais e a cadeira continua no mesmo lugar, e as pessoas se mudaram. Não existe mais ninguém pra se sentar ou pra maltratar. A brincadeira de criança ficou lá atrás, é hora de crescer, é hora de melhorar, é hora de fazer diferente, é hora de mudar. Hoje a música não toca mais e a brincadeira também não existe mais. Maldita brincadeira que me rendeu traumas que jamais esquecerei, assim como todos os bons momentos também, que incluem você.

Ainda me lembro da última vez que brincamos e que você se sentou nessa mesma cadeira, como se fosse a coisa mais certa a se fazer. E era, sempre foi, sempre vai ser e por esse motivo ela nunca mais saiu do lugar, e a música nunca mais tocou, não havia mais motivos pra tocar... Porque apesar de todos os traumas e toda a dor, você continua ocupando o lugar mais bonito - e dolorido - daquilo que eu chamo de "meu coração".

domingo, 11 de julho de 2010

Caminhos tortos.


Penso que se nossos caminhos não fossem tortos como são... Jamais nos encontraríamos. E como foi bom te encontrar, te reconhecer e me reconhecer em você também. Penso que se fosse tudo retilíneo, eu viveria em um completo desatino sem saber que o que me faltava era você.

Mas você, falo de você com tanto amor porque é amor que eu sinto, mesmo sendo um amor totalmente contrário do amor que eu preciso. Falo de precisar porque sempre precisaremos de algo que não temos ou teremos, mas continuamos nessa busca pelo simples fato de precisar e, quem sabe, encontrar.

Falando em encontrar, encontrei em você muitas coisas. Encontrei o seu caos, encontrei minha calma, encontrei o seu drama, encontrei a minha alma, encontrei o seu pulsar, encontrei a minha alegria, encontrei a sua inconstância, encontrei a minha vida, encontrei sua inflexibilidade, encontrei minha versatilidade... Te encontrei em mim, me encontrei em você. O que mais isso poderia parecer?

Era amor e pronto! Eu sei que ainda continua sendo amor, mesmo lutando pelas causas perdidas, amor que é amor... É amor pra toda vida, e como eu seria capaz de travar uma batalha contra a coisa mais bonita que eu sentia? Era você e pronto! Eu sei que era você e continua sendo, mesmo que o mundo esteja de cabeça pra baixo, mesmo que ele desabe... Não há céu que rejeite, não há nada que acabe.

Penso que se nossos caminhos não fossem tortos como são... Jamais nos encontraríamos. E eu agradeço todos os dias por nada entre nós ser tão retilíneo. Porque se ao invés de progredir, a forma de te encontrar fosse voltando pra trás... Eu voltaria por todas as vezes, por todos os dias só pra ter a grande alegria de sempre poder cruzar com você de algum jeito, com todos os defeitos, contratempos e sujeitos que rondam a sua, a minha e a nossa vida.

domingo, 4 de julho de 2010

Diálogo.


Se encontraram, finalmente se encontraram, se abraçaram mas não se entregaram. Se olharam e por vários minutos pensaram, silenciaram qualquer medida drástica que poderia ser tomada naquele momento. Ela teve medo de se entregar e não ser aceita como era. A outra não se entregou por medo de se arrepender dessa mesma entrega. Se calaram, por fim, se perdendo daquilo que era quase impossível se perder. Em um colapso nervoso, em uma despedida, já que nada mais poderia ser feito e no rompimento certo e no tudo quase desfeito...Vem o diálogio:

Ela: Você realmente vai embora assim?
Outra: Eu vou. Percebi que depois de todo esse tempo não é mais possível ter o mínimo de compreensão entre nós, você não faz por onde. Por que eu haveria de sempre fazer?
Ela: Mas eu pensei que você me amasse.
Outra: Eu amo, e muito. Mas tenho preferido me amar primeiramente. São tantos traumas que eu não consigo mais amar tão sem limites como você precisa, porque eu também preciso que alguém me ame assim. Você me ama?
Ela: Eu amo. Você não sabe disso?
Outra: Sei. Só estou perguntando se você seria capaz de me amar sem limites por já me amar de alguma forma.
Ela: Não sei! Tenho medo de tudo o que foge do meu controle, acredito que nada do que eu possa controlar vá ser bom pra mim.
Outra: Você acredita que o amor pode ser controlado?
Ela: Não.
Outra: E como você diz que me ama? Entenda, você não pode me controlar, muito menos se controlar.
Ela: Mas eu te amo, é verdade.
Outra: Eu sei, mas eu queria entender como você me ama. É tão subentendido, tão escondido. Queria saber se dá mesmo pra se amar alguém assim.
Ela: Eu só tenho medo.
Outra: Medo do quê? Estamos no mesmo barco e se queremos isso, precisamos remar juntas.
Ela: Acho que eu não consigo mais remar, sou tão machucada que eu não tenho mais forças.
Outra: E como você quer que eu reme? Como você quer que eu fique? Não dá pra entrar nisso sozinha, eu não quero, eu não posso fazer isso comigo e nem você.
Ela: Eu só não queria que você fosse embora.
Outra: Eu só queria que você fizesse por onde pra que eu ficasse.
Ela: Eu quero que você fique.
Outra: E por quê? E pra quê?
Ela: Porque apesar do medo que eu sinto, é com você que eu quero ficar pra te fazer feliz.

Tentaram... Tentaram por horas entender algo que não era entendível. Buscaram profundas soluções pra tudo o que era, o que estava e tinha se tornado insolúvel. Choraram, partiram os corações na certeza de que poderiam colá-los algum dia novamente, mas já estavam tão neutros que desacreditavam de qualquer salvação pro que nascia: mais uma desilusão.

Outra: Quero alguém que me prove isso a cada dia e não somente nos breves momentos de alegria.
Ela: Mas eu posso melhorar, por você.
Outra: Quero que você melhore por você, não por mim. Isso seria anular sua vontade.
Ela: Não estou entendendo onde você quer chegar.
Outra: Quero chegar no ponto crítico de qualquer relação: no quanto somos felizes e fazemos a outra pessoa feliz também.
Ela: Você é feliz comigo?
Outra: Sim. e você, é feliz comigo?
Ela: Sou.
Outra: E por que somos assim?
Ela: Porque você é exigente.
Outra: Como assim?
Ela: Você espera muito de mim e esse muito é um processo difícil.
Outra: Se sentir amado é sinal de exigência?
Ela: Não.
Outra: É só disso que eu preciso, e você não entende e não quer entender.
Ela: Então tá.
Outra: Tá. Agora eu vou.

Não se despediram, porque não queriam. Não acreditavam que toda essa história acabaria dessa forma, apesar de saberem que tudo já estava acabado. Mas não aceitavam, relutavam, se machucavam diariamente com a falta que a falta fazia. A outra deu as costas pensando: "Como eu queria que, nessa hora, você estivesse correndo atrás de mim e me impedindo de fazer isso.". E ela, que tanto temia ficar sozinha, e perder a outra que mais queria, ficou olhando-a até perder de vista e pensando: "Como eu queria que, nessa hora, você voltasse correndo me impedindo de aceitar a sua partida."

Por fim, choraram por noites e dias e nunca mais se viram...
Porque a vida fez questão de nunca mais cruzar os caminhos.