segunda-feira, 12 de julho de 2010

Brincadeira de criança.


Me sinto perdida, é verdade! É tudo tão confuso quanto saber os nomes de todos os meus parafusos... São tantos. Sempre entendi a vida como se fosse uma "dança da cadeira". Que termo mais rídiculo pra definir uma vida - penso -, mas era assim que funcionava. As pessoas vinham enquanto a música tocava, rodavam em volta, ansiosas pra quando a música acabasse e quando ela acabava, os mais espertos sempre se sentavam e, assim, era mais fácil saber quem ficaria ou quem iria embora. Que método mais estúpido pra saber quem vai e quem fica na sua vida - penso novamente -, mas era assim que era, era assim que eu pensava.

Sempre achei que assim fosse mais fácil, mas é tão mais complicado. Afinal de contas, o que poderia dar errado? Era simples, a música rolaria, as pessoas brincariam e quem fosse mais ágil sentaria na cadeira. Uau! O que haveria de complicado nisso? Era um método tão antigo, brincadeira de criança, e nada eficaz pra se ter certeza qual o lugar que cada pessoa ocuparia. Ledo engano e quanto desengano veio junto com tudo isso! Não imaginaria o estrago que tudo isso poderia fazer em mim, porque essa mesma cadeira representava meu coração e não era qualquer um que poderia sentar, embora todos se sentassem e machucavam-me e torturavam-me e derrubavam-me e arranhavam-me e maltratavam-me e quebravam-me e...

Nada durou por muito tempo. Ninguém que era capaz de se sentar por ali, permanecia por muito tempo. Afinal de contas, era só uma cadeira. Quem é que haveria de querer ficar sentado em uma cadeira nada confortável e cheia de arranhões durante muito tempo? Dá um trabalho danado corrigir os defeitos, de levar pra o conserto, de prestar assistência. Queremos o prático, queremos o óbvio e se algo que temos se quebrar, jogamos fora ou deixamos de lado. Fazemos entulhos de emoções, um amontoado de coisas más resolvidas que jamais seremos capazes de resolver, de entender ou até mesmo de escrever.

Hoje a música não toca mais e a cadeira continua no mesmo lugar, e as pessoas se mudaram. Não existe mais ninguém pra se sentar ou pra maltratar. A brincadeira de criança ficou lá atrás, é hora de crescer, é hora de melhorar, é hora de fazer diferente, é hora de mudar. Hoje a música não toca mais e a brincadeira também não existe mais. Maldita brincadeira que me rendeu traumas que jamais esquecerei, assim como todos os bons momentos também, que incluem você.

Ainda me lembro da última vez que brincamos e que você se sentou nessa mesma cadeira, como se fosse a coisa mais certa a se fazer. E era, sempre foi, sempre vai ser e por esse motivo ela nunca mais saiu do lugar, e a música nunca mais tocou, não havia mais motivos pra tocar... Porque apesar de todos os traumas e toda a dor, você continua ocupando o lugar mais bonito - e dolorido - daquilo que eu chamo de "meu coração".

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