domingo, 27 de junho de 2010

Vem você.


De repente, vem você. É, eu digo de repente porque foi assim que aconteceu. Você veio e me tirou o sono, me apresentou o caos, as noites em claro, o desespero. Você veio e colocou o meu mundo de cabeça pra baixo, como um tornado. Revirou as gavetas, jogou as roupas no chão, bagunçou a cama. Você veio e fez da minha vida um eterno drama, sem dama, com uma péssima trama.

De repente, vem você. É, eu digo de repente porque foi assim que aconteceu. Você veio quando eu não esperava, você me cortou em gumes como se faz uma faca. Você veio e nunca mais me abandonou, você me transformou no pior que eu sou, você me mutilou como ninguém mais. Você veio e fez de mim um quase infeliz, andando na corda bamba, me equilibrando por um triz.

De repente, vem você. É, eu digo de repente porque foi assim que aconteceu. Você veio na hora errada, varrendo toda a poeira que tinha em minha casa. Eu disse: "Ei, eu não quero isso! Para, para!", mas você me olhava, tão profundo, tão obscuro que dava medo. O barulho que você fazia passando por todos os cômodos, era o mesmo barulho de uma ventania sem fim. Dava medo te enfrentar, porque você me olhava, e você me prendia e você me matava, sempre, aos poucos, como quem tivesse o prazer de me ver com medo, no desespero sem ter onde apoiar.

De repente, vem você. É, eu digo de repente porque foi assim que aconteceu. Você veio do nada, pulou o muro, abriu a porta, subiu as escadas e me encontrou. Você veio e simplesmente disse: "Agora é pra ficar, você não tem como escapar". E eu não tinha mesmo! Estava tão entrelaçada ao que você me propunha que eu não conseguia dizer não. Você simplesmente veio e me mostrou uma outra direção, me levou pra contramão do meu coração, onde não dava pé, onde não tinha chão.

De repente, vem você. É, eu digo de repente porque foi assim que aconteceu. Você veio e eu não pude resistir: abri os braços, te sorri e esqueci de ser feliz. Você veio e levou o melhor de mim e eu não consegui dizer não e nem mesmo sim... Você veio e me tirou pra dançar, mesmo sem música, e me fez levitar...

E nessa hora, você sussurrou tão baixinho no meu ouvido que eu quase não pude escutar. Mas escutei, e você disse:: "Diga adeus ao seu coração. Eu estou aqui com você e o prazer é todo seu, pois eu sou a sua solidão."

2 comentários:

  1. As palavras fácies de se ler junto das repetições propositais deram ainda mais vontade de ler o seu texto. Espetacular se é que posso me referir apenas com essa humilde palavra.

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  2. O pior é pensar que tal dona pode fazer uma visita a qualquer hora, não importa quão grande seja a multidão ao nosso redor.

    Adoro uma boa repetição, fixa a idéia do texto exatamente como imagino que você pretendia. Mais uma vez, minhas palmas.

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