domingo, 7 de novembro de 2010

Quebra-cabeça.


Procurei durante muito tempo a peça de um quebra-cabeça que eu nunca consegui montar. Não sabia onde ela tinha ido parar, se era embaixo do sofá, atrás da porta, dentro do armário ou em qualquer outro lugar. A casa era enorme e o mundo a minha volta também, qualquer um poderia ter pegado e jogado fora - como eu também -. Não sei dizer, mas eu queria mesmo encontrar.

São inúmeras as possibilidades que me fazem pensar onde é que eu enfiei essa peça ou onde a enfiaram preu não encontrar. Mesmo sem ela, tentei montá-lo. Passei dias, meses e anos pra colocar cada peça em seu lugar. Algumas demoraram se encaixar, outras nem tanto -se encaixaram com tanta facilidade que dava orgulho admirar-. Mas a que faltava, essa tinha um peso gigantesco. Nada poderia ser completo com aquele lugar vazio, que me confundia e não me deixava pensar no que eu poderia colocar ali para substituir e o completar.

Fui desistindo depois de um tempo. Deixei o quebra-cabeça pra lá porque descobri que nada poderia suprir o lugar daquela que faltava, que eu não encontrava e não iria mais encontrar. Puxei na memória todo e qualquer lapso de onde ela poderia estar: nas gavetas dos erros, nos degraus dos deslizes, no parapeito da janela de decepções, embaixo da cama da confiança, na escrivaninha do arrependimento, na carteira do coração, no armário da solidão. Depois disso, descobri que a peça tinha sumido por si só, por não aguentar todas as outras peças que eu precisava ter pra completar todo esse percurso pra chegar até ela. Decepcionei na mesma velocidade em que machuquei, rasguei, esqueci e mandei pra longe a única coisa que me faltava pra ser feliz.

O quebra-cabeça que tanto me refiro, sou eu e a minha vida.
E a peça que eu também me refiro, é você e a minha alegria.

Que se foi.
Que se foram.

Não sei pra onde, mas eu sei o porquê.

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