quarta-feira, 30 de junho de 2010

Um certo ódio.


Dá um certo ódio não ser reconhecido. É um ódio tão grande quando você olha pra traz e vê tudo o que você fez, mesmo sem esperar nada em troca, mas torcendo pro mínimo de reconhecimento surgir, já que tudo era recíproco até então. Ficamos cegos de tanto ódio quando percebemos que quem mais amamos, foi justamente quem mais pisou em nosso coração.

Odiamos com tanto gosto que chegamos até mesmo amar o próprio odiar. Coisa louca essa de amarmos aquilo que odiamos, mas é que odiamos com tanta força que acabamos amando, da maneira mais errada, mas ainda amamos por ser tão presente, que dói, que estilhaça, que arregaça sua cara na vidraça e te mostra aquilo que você não quer ver, e não por medo mas pra tentar esquecer.

Dá um certo ódio recomeçar. É tão infeliz você ter que mudar a direção toda vez que algo dá errado, que não vai pra frente, que não tem como você acompanhar. A gente esbraveja, range os dentes, perde o controle. Fica inconsciente, valente, inconsequente, chora, se arrepende. Tão deprimente!

Odiamos com tanta força que somos capazes de esquecer que aquilo foi bom. Mas se foi tão bom, por que odiamos? Seria então uma espécie de: "Eu odeio porque acabou, quando não poderia!" ou "Eu odeio porque nunca deveria ter acontecido e acabou"?. Se tudo acaba porque uma hora tem que acabar, por que insistimos em odiar? Por que é que temos, sempre, que continuar?

Dá um certo ódio não consigo esquecer. É tão triste você correr por todos os lados e voltar nas lembranças, momentos, histórias e dramas que ainda te prendem ali. É tão difícil continuar adiante quando tudo o que você mais desejou te puxa pra trás e esse alguém não se importar, simplesmente te deixa passar, sem se incomodar. Afinal, é página virada, rasgada, queimada e jogada em qualquer lugar.

Odiamos tanto, em meio há tantos erros, que fica impossível enxergar algo de bom que tenha permanecido. É tão terrível você ter a idéia de ter se dedicado, amado e respeitado e isso não ter sido mútuo, muito pelo contrário... Foi tudo muito sujo, muito turvo, muito nulo. Ficamos tão cegos por odiar que a cede de vingança fica clara, vasta e de empolgação tamanha.

Dá um certo ódio e é um ódio tão grande que, nessas horas, nem odiar por odiar vale a pena. Mas dá um certo ódio, e como dá.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Penso, logo.


Acordo e apenas penso. Penso porque pensar move o mundo, idéias, multidões, acalma demais os corações e muda as direções. Penso e logo existo. Existo porque pensar me leva a procurar o propósito que vivo, que insisto, que me inspiro. Penso e logo fico. Fico parada no lugar, porque apesar do pensamento mover, ele me move sempre pro mesmo lugar.

Acordo e apenas penso. Penso e reflito. Reflito porque faz parte do cotidiano-que-criamos-cotidianamente-pra-nós-mesmos. Penso, logo crítico. Crítico porque qualquer crítica é benvinda, qualquer coisa que possa melhorar ou afundar a sua vida, tudo depende da sua interpretação racional. Penso, logo sorrio. Sorrio porque não tem lugar pra tristeza aqui, porque a vida me proporciona sensações sem fim. Penso, logo desisto. Desisto porque é necessário desistir, é necessário saber a hora de dizer não, de parar, de simplesmente partir.

Acordo e apenas penso. Penso, logo vou saindo de fininho. De fininho porque o mundo anda tão complicado que hoje eu quero fazer não tudo por você, mas mais por mim.

domingo, 27 de junho de 2010

Vem você.


De repente, vem você. É, eu digo de repente porque foi assim que aconteceu. Você veio e me tirou o sono, me apresentou o caos, as noites em claro, o desespero. Você veio e colocou o meu mundo de cabeça pra baixo, como um tornado. Revirou as gavetas, jogou as roupas no chão, bagunçou a cama. Você veio e fez da minha vida um eterno drama, sem dama, com uma péssima trama.

De repente, vem você. É, eu digo de repente porque foi assim que aconteceu. Você veio quando eu não esperava, você me cortou em gumes como se faz uma faca. Você veio e nunca mais me abandonou, você me transformou no pior que eu sou, você me mutilou como ninguém mais. Você veio e fez de mim um quase infeliz, andando na corda bamba, me equilibrando por um triz.

De repente, vem você. É, eu digo de repente porque foi assim que aconteceu. Você veio na hora errada, varrendo toda a poeira que tinha em minha casa. Eu disse: "Ei, eu não quero isso! Para, para!", mas você me olhava, tão profundo, tão obscuro que dava medo. O barulho que você fazia passando por todos os cômodos, era o mesmo barulho de uma ventania sem fim. Dava medo te enfrentar, porque você me olhava, e você me prendia e você me matava, sempre, aos poucos, como quem tivesse o prazer de me ver com medo, no desespero sem ter onde apoiar.

De repente, vem você. É, eu digo de repente porque foi assim que aconteceu. Você veio do nada, pulou o muro, abriu a porta, subiu as escadas e me encontrou. Você veio e simplesmente disse: "Agora é pra ficar, você não tem como escapar". E eu não tinha mesmo! Estava tão entrelaçada ao que você me propunha que eu não conseguia dizer não. Você simplesmente veio e me mostrou uma outra direção, me levou pra contramão do meu coração, onde não dava pé, onde não tinha chão.

De repente, vem você. É, eu digo de repente porque foi assim que aconteceu. Você veio e eu não pude resistir: abri os braços, te sorri e esqueci de ser feliz. Você veio e levou o melhor de mim e eu não consegui dizer não e nem mesmo sim... Você veio e me tirou pra dançar, mesmo sem música, e me fez levitar...

E nessa hora, você sussurrou tão baixinho no meu ouvido que eu quase não pude escutar. Mas escutei, e você disse:: "Diga adeus ao seu coração. Eu estou aqui com você e o prazer é todo seu, pois eu sou a sua solidão."

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Incompleta.


A vida é mesmo um quebra cabeça e sempre faltam peças preu me sentir completa. Sim, maneira terrível essa de continuar vivendo sabendo que falta algo ou alguém. Mas o quê? Quem? Por que, por que é que alguma coisa sempre falta quando você tem tudo nas mãos pra não faltar?

Nós mesmo é insaciáveis! Quanto mais temos, mais queremos e quanto mais queremos, mais perdemos. Amar o que se tem, o que se é dado não é se contentar com pouco, mas é reconhecer o valorizar o que se pode ter no momento, o que cabe nas suas reais condições e frustrações.

Mas nós sempre queremos mais. É essa mania de acharmos que pelo fato de querermos mais, é que vamos receber o mais. Expectativas, toda e qualquer expectativa na espera dessa coisa que ninguém sabe o nome direito e sub julgam de "felicidade". Me sinto medíocre pensando que só vou ser feliz se eu tiver isso, mesmo tendo consciência de que quando eu tiver, vou querer outra coisa mais incabível que essa por ter medo de me sentir satisfeita com o que tenho.

O que tenho, é tão importante, reconheço, valorizo e retenho com tanta amor. Mas eu sou tão grande que eu quero é mais. Digo mais em todos os sentidos: mais amor, mais saudade, mais compreensão, mais sinceridade, mais respeito, mais admiração, mais valor, mais, mais, mais. Embora seja dolorido querer, é na dor que nós crescemos, despertamos, melhoramos e envelhecemos.

Será que a medida que envelhecemos com a dor que sentimos, vamos valorizando pouco a pouco o que a vida nos oferece? Ou ficamos mais exigentes por achar que o mais da vida é sempre menos diante das nossas necessidades mais profundas?

Me sinto incompleta, porque falta algo ou alguém que eu não sei o que é ou quem. Mas já é dia! Olho pela janela, vejo a paisagem - tão linda - e até nela falta alguma coisa que eu não sei explicar.

Direciono os meus olhos, novamente, ao meu quebra-cabeça da vida e a única peça que falta... Eu não sei onde foi parar! Será que se encontra dentro de mim e eu não quero enxergar? Será?

Eu gosto mesmo.


Eu gosto mesmo é de palavrar. Juntar todas as letrinhas: sílabas + consoantes e fazê-las rimar. Gosto de textualizar tudo o que eu penso e o que eu sinto, assim não minto e nem omito.

São através das palavras que eu reajo, invado e me conheço. Palavras essas que, às vezes, até definem quem eu sou. E quando tento fugir delas, elas sabem onde eu estou.

Me procuram o tempo inteiro, reconhecem quem gosta, e o gosto, de palavrar. São dias e noites inteiros buscando, encontrando, perdendo e palavrando sem parar. Páginas em branco convidam lápis, lapiseiras e canetas pra preenchê-las com delicadeza. Quanta tentação! Não se pode ver uma página dando sopa que já chega a inspiração.

Eu gosto mesmo é de palavrar. Jogar as palavras no ar e depois sair juntando uma por uma: formando nuvens, sonhos, romances, decepções e aventuras. Gosto de constatar o incontestável, de atingir o inalcansável. No palavrar, tudo é benvindo e aproveitado.

Palavrar é a arte da escrita com o verbo amar.
Simplesmente, palavrar.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um espaço vazio.


Aqui tem um espaço vazio que é só teu. É tão teu - e por inteiro - que se torna até cheio-de-não-sei-o-quê. As palavras se perdem diante de todas as coisas que já se perderam e que ainda se perdem a cada dia e não há maneira, não há forma, não há cura e nem remédio pro irremediável.

Tudo, sim, se torna irremediável diante dos nossos corações. Somos dilatados dia-a-dia por essa rotina esmagadora que nos obriga a abrir mão de coisas e pessoas que julgávamos tão importantes, tão incessantes, tão grandes dentro de nós mesmos e que, hoje, se tornam pequenas diante de qualquer necessidade que se tenha.

Aqui dentro tem um espaço que é só teu. E é mesmo! Por menor que seja, pela pouca importância que você dê, por nada de lembrança que você tenha... Aqui dentro de mim tem um espaço que é só teu, e que ninguém tira porque é na ausência que a gente descobre a essência, e é na essência que percebemos a magnitude e a magnitude se resulta em saudade.

Saudade! Puta palavra com um significado extenso e intenso. Me pergunto diariamente do que eu tenho saudade e a resposta que me vem na cabeça é: você. Saudade dos dias, saudade das ligações, saudade das confidências, saudade da lealdade, saudade do sorriso, saudade das cartas, saudade dos doces, saudade dos abraços, saudade dos olhares, saudade das mãos, saudade dos bilhetes, saudade das ligações nas madrugadas, saudade dos segredos, saudade dos momentos... É tudo tão saudade, tão vazio de saudade que se enche, transborda e o vazio fica cheio de tanto vazio.

Continuo repetindo que aqui dentro tem um espaço que é só teu, porque tem! E jamais será preenchido, ocupado, substituído. Meu amigo, o espaço que você conquistou é todinho seu, responsabilidade sua e irresponsabilidade do acaso, do destino, da vida, da força maior ou dê o nome que preferir, que te separou de mim. É um espaço que é só teu, cheio de saudade, vastamente sem fim.

É só teu, meu amigo...
Que saudade de ver você ocupando esse espaço, só.

"Amizade é um amor que nunca morre. Acontece que eu já morri...
E foi de pura saudade. Ah, meu amigo! Ah."

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Mais amor, por favor.


Amor é uma espécie de burrice, né? Digo isso porque quando amamos, ficamos burros. Sim! No sentido inteiro da palavra: totalmente burros. Somos incapazes de cogitar coisas negativas ao lado de quem amamos até que essas mesmas coisas acontecem. Uau! É sempre uma surpresa, quando não deveria ser, já que as pessoas que mais amamos são justamente aquelas que mais vão foder as nossas vidas. Ficamos extasiados imaginando o motivo pelo qual isso aconteceu, o porquê do amor não ter resistido, reagido e nos perguntamos: "Era mesmo amor?".

Amar é realmente burrice, mas que burrice boa. Não? Apesar dos pontos negativos - como todo e qualquer lado - quem é que não gosta de amar e se sentir amado? Estou falando daquela coisa de você se sentir retardadamente idiota por alguém, de não saber como reagir ao lado da pessoa, de não saber o que falar, da mão suar, dos olhos se desviarem e olharem pra outra direção, de afinar o ouvido pra não perder nenhum detalhe - nem mesmo o da respiração daquela que te arranca suspiros -. Sim, estou falando de amor, mesmo! Do amor mais burro que se sente nessa vida: o de amar da maneira mais amável, mais esdrúxula, mais completa, mais absurda que nem mesmo você é capaz de entender os motivos pelos quais o laço com aquela pessoa se torna tão forte que você é incapaz de achar alguma coisa nela rídicula.

Falo que amar é burrice porque quando amamos alguém, somos capazes de achar qualquer coisa nela bonita. É incontestável dizer que algo nela não vale a pena, até mesmo os defeitos se tornam bonitos e você os empurra pra baixo do tapete como se eles não existissem. Mas existem, e são tantos, mas tantos que você é capaz de não levar em consideração, relevar, justamente pelo fato de amar.

Nada disso deveria ser burro, é sinal de que amamos inconscientemente. E até que ponto algo inconsciente é verdadeiro? Até que ponto amar sendo verdadeiramente burro ao lado de quem se ama é correto, coerente, persistente?

Mas, quem foi que disse mesmo que pra amar era necessário todas essas razões?. Razões, taí uma coisa que não combina com as emoções, que não se encaixa, que tira o enredo, que faz barulho na percussão. Nós só queremos mesmo é amar! Fodam-se as razões, as contestações...

Se amar é ser mesmo burro, sou feliz por ser assim.
Quem é burro ama tão bonito, né? Eu sei.

Mais amor, então, por favor.
Quente, de preferência. E cheio de espumas de sonhos, só pra adoçar.

Eu só preciso respirar.



Eu só preciso respirar, ter um motivo pra sonhar, pra acreditar, pra fazer diferente. Eu só preciso de um tempo pra pensar, pra me organizar, colocar as coisas em seu lugar. Eu só preciso caminhar, mesmo que sem direção, mas seguir em frente pra me libertar. Eu só quero emoções, daquelas bem fortes, bem lindas, que transbordem o peito, encham o estômago de borboletas ginastas, me deem náuseas, me naufraguem e não me contenham. Eu só preciso respirar, ver a vida diferente, de um outro anglo, de um novo plano onde tudo e todo mundo é mais contente, mais vivente, mais crescente. Eu só preciso viver, mas tão intensamente que eu nem aguente a proporção, que eu queira cansar mas no minuto seguinte recuperar toda a vontade de continuar vivendo. Eu só preciso de combustível, de alguém que me empurre pra frente, que se importe, que demonstre, que me ame da maneira mais amável, que não sinta vergonha, que lute, que mude, que transmute, que faça vingar. Eu só preciso plantar a semente certa daquilo que eu quero regar, adubar e colher, quero ter orgulho de ver a semente virar fruto e flor sem pensar em me arrepender. Eu só preciso respirar, tragar a vida de uma só vez, sem precisar contar uma, duas ou três vezes.

Eu só preciso levantar, lavar o rosto, tomar um banho, trocar de roupa e conhecer o mundo. Eu só preciso acordar e ter coragem suficiente pra me investigar bem lá no fundo. Eu só preciso correr, pra onde ninguém me alcance, onde eu fique de olho em todos os lances e mate aquele coelho com uma cajadada só. Eu só preciso me amar, me colocar em primeiro lugar, me fazer acreditar que eu sou melhor, SIM, pra muitas pessoas que não são capazes de aceitar esse melhor, eu sou. Eu sei e, por isso, sabemos.

Eu só preciso respirar, é sério! Preciso de oxigênio limpo, de pessoas lindas e sinceras, que me somem um pouco mais de amor e de vida, que cresçam comigo, que me acompanhem, que se importem, que sejam, assim, tão coração enquanto esse mundo - e que vasto mundo - é somente razão, chateação, turbilhão.

"Eu só preciso respirar" - retrucava dentro de si - "Será que é tão difícil assim? - Sei lá!"

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Não tocou.



Era tarde, o telefone não tocou. Alguém sabe o que é ficar um dia inteiro ao lado do telefone esperando uma ligação que, no fundo, você sabe que não vai acontecer?

Não tocou, e eu continuei ali, mesmo não tocando, esperando que do outro lado, alguém tirasse o fone do gancho e ligasse somente pra dizer: "Alô? Oi, como você está?" ou: "Andei pensando em você" ou "Como foi seu dia?", coisas um tanto quanto bobas, mas que fazem a diferença quando você espera que alguém se importe com você, quando ninguém mais se importa mesmo.

Foi uma pena. O telefone não tocou, não tinha ninguém do outro lado da linha, era tudo tão silêncio, tão vazio, tão extremo do nada que me habitava que continuei ali, à espera daquilo ou daquela e, quem sabe daquele, que mudaria a sensação, a nostalgia e a decepção que eu senti. Fiquei aguardando, mas tanto, que até tirava-o do gancho às vezes pra ter a real certeza de que tinha linha - e tinha -, a questão em si mesmo é que ninguém ligava. Demorei pra entender que ninguém ligaria e muito menos retornaria, mas não desisti de esperar.

Continuei ao lado do telefone, à espera, sempre esperando, como sempre espero! Essa maldita mania de esperar, por respeitar o tempo, a vontade, a vida. Essa maldita espera que, às vezes, me impossibilita de continuar na vida. Essa maldita espera que, apenas quê.

O telefone não tocou, nenhuma mensagem sequer na secretária eletrônica dizendo: "Tentei te ligar, mas já é tarde, você deve estar domindo... Mas eu queria que soubesse que eu liguei." Era o mínimo, mas nem isso me foi dado, nem isso pude esperar, não podia esperar embora fosse meu íntimo desejo ou talvez apelo.

Sem ilusões, porque não tocou e não iria tocar. Do outro lado da linha, o mesmo silêncio, aquele que existiu desde o começo e não era, definitivamente, uma forma de comunicação. O sono chegou, fui dormir, então, com a sensação de que não haveria mais, como nunca houve, nem um sim e nem um não.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pegação.


Que termo definiria melhor a expressão "pegação"?. Começo cogitar possibilidades como: "vontades efêmeras agradam muito". Pessoas, hoje em dia, não são mais pessoas. É um comércio de corpos, sexualmente falando. Um pega daqui, outro pega de lá e todos pegam de cá! Nos tornamos mercadorias aos olhos e mãos do outro, como se fôssemos um pedaço de carne tão suculento quanto a própria carne -termo mais esdrúxulo que esse? impossível-, ou simplesmente por sentirmos a vontade de pegar, de ser pego, mas não de se entregar.

Desejos e vontades são separados. Pegação não envolve sentimento e quando envolve... As chances de você parar na gelaria é tão grande quanto a um picolé no inverno: 100%. Nos tempos de hoje é mais fácil pegar do que se apegar, ou se apegar e não pegar? Ou aproveitar o momento pra pegar sem se apegar, ou pegar por pegar? Somos realmente a mercadoria que alguém X tanto deseja e perdemos a data de validade logo em seguida quando somos consumidos? Ou é somente um capricho do nosso eu com relação à "não quero e não vou me apegar porque tenho medo"?. Seria, então, uma forma de se privar de toda e qualquer emoção porque a pegação é mais legal? Por que ela é a única cabível no momento ou porque estamos tão acostumados a esse comércio de corpos que aceitamos o que vier?

Pegação é o que o próprio termo diz: pegar e não se apegar.
Quem é que tá afim de pegar por aí? - Não tô não! Acho que não sou daqui.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Cansa-se.


A gente decide que vai cansar. Então tá! A gente realmente cansa. Dá pra de cansar de tantas coisas: cansa-se de ilusões, cansa-se de pessoas, cansa-se de lugares, cansa-se de conversas, cansa-se de desencontros - e até mesmo dos encontros -, cansa-se da queda, cansa-se da luta, cansa-se dos seus e dos sentimentos alheios, cansa-se dos beijos, cansa-se das memórias, cansa-se dos quereres, cansa-se das contradições, cansa-se das mentiras, cansa-se da falta de comprometimento, cansa-se da conquista, cansa-se da companhia, cansa-se dos sorrisos, cansa-se dos abraços, cansa-se da rotina, cansa-se dos afagos, cansa-se da falta de estima, cansa-se da falta de espaço, cansa-se de estar sozinha, cansa-se da namorada ou namorado, cansa-se da família, cansa-se de pensar em olhar pro lado, cansa-se de projetar, planejar, sonhar, cansa-se de recortar, colar, moldar, cansa-se de insistir, desistir, cansa-de de recomeçar, começar ou continuar, cansa-se de ter, cansa-se de não querer, cansa-se de novidade, cansa-se do comum, cansa-se de não ser prioridade, cansa-se por não ser só mais um, cansa-se de chorar, cansa-se de gritar, cansa-se de chamar atenção, cansa-se de tentar, cans...

Cansa-se tanto, mas tanto, que até se cansa de tanto se cansar.
Mas continua, e continua... Cansando-se cotidianamente e até.