sábado, 20 de novembro de 2010

Seu cheiro.


Andei pensando nos cheiros, nos atos, nos fatos, nos gestos, nos sorrisos inteiros. Uma dúzia de palavras trocadas, não mais do que isso. Impossível tem sido a palavra da vez já que o possível foi arrancado e afastado pra longe de mim. Andei pensando nos abraços, nas respirações, nos toques, nos lábios molhados, de fato, sem fim.

Maldita seja a mania de comparar pessoas, cheiros, trejeitos e etc. Cheiro sempre foi uma coisa muito íntima. Procurei sempre os melhores, embora já tivesse encontrado os piores no meio do caminho. Acontece, é o preço que pagamos por trocar as flores do campo por um lixão onde não se encontra muita coisa, a não ser grandes enganos.

Mas venho falar de um cheiro especial, aquele de alegria. Era aquele seu cheiro que inundava toda a minha vida, que me sorria certeiro, um pouco grosseiro. Era o seu jeito, com aquele cheiro que eu tanto gostava. Difícil saber que nenhum cheiro pode ser comparado ao seu, que era meu, nosso, em um laço, atado sem pressa de desatar. Encalacrado nos poros, nada santos, porém, devotos à tudo aquilo que me fazia bem. Tão bem que virei refém e acabei sem nada, nem ninguém, sem algum tostão ou vintém.

Andei pensando em todas as coisas, pessoas e seus cheiros mais peculiares, tive tantos. Mas nenhum se iguala, nem pudera, ao seu. Caminho pelas ruas à procura desse cheiro que me envolveu por inteira entre retas, subidas, esquinas e ladeiras. Seu cheiro que não encontro mais, mantido no pescoço, no suor, no mais íntimo dentro de mim que denomino meu poço. Mergulho na lembrança do cheiro que eu tive, que eu senti e que me fez parar no tempo com todas as gotas de esperança de fazê-lo, novamente, parte de mim.

Seu cheiro é mistura de saudade e desejo, amor e apelo que eu não consigo mais não querer sentir. Cheiro de menina do interior, de cidade modelo e com praças bonitas onde os peixes nadam, as folhas são verdes e as flores coloridas.

E embora eu acorde todos os dias sozinha, com o Sol me dando bom dia... O seu cheiro é uma coisa que não me largou nunca, até hoje me invade e, simplesmente, fica.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Inesquecível.



O tempo passou, ele sempre passa mesmo e ficamos nos perguntando o que fizemos em tempos passados, o que e quem levaremos desse tempo -o agora- pro tempo futuro. Não sabemos. Jamais encontraremos essas respostas. O tempo que nos foi dado, foi exato enquanto ele não passava, enquanto não podia passar. Algumas pessoas se perdem no tempo por medo de enfrentar os tempos que virão, sejam os mesmos difíceis ou de muita ilusão. Me pergunto diariamente o que foi que eu fiz com o tempo que eu tive e não aproveitei, com você que eu tanto quis e fiz questão de perder. Penso no tempo que ficou pra trás, no tempo de agora que está no fim e no tempo que ainda nem vivi.

Sinceramente, não sei! Me perdi diversas vezes entre o tempo que passou, o tempo que passa e no tempo que passará na tentativa de te encontrar, de te trazer de volta pra cá onde sempre intitulei ser seu lar. Não queria que tempo algum voltasse, mas queria ter toda e qualquer fórmula pra acertar os ponteiros do meu relógio com o seu, pra reter em mim a tristeza de te ver partir e a felicidade estampada por ter ver, sempre, chegar. Era isso o que eu queria, era o que eu sempre esperei e que hoje, vendo o tempo passar, tenho a consciência de que talvez nunca aconteça, por tudo ter mudado e por você sentir vontade de mudar. As coisas aconteceram, os momentos se perderam e tudo aquilo que nos fazia sentido, simplesmente, deixou de fazer, nada mais nos mantinha. Nada te manteria. Eu sei.

O tempo passou, ele sempre passa mesmo e as coisas mudam na velocidade da luz porque nada em nossa volta é capaz de parar. Não há tempo suficiente que nos faça consertar e voltar pra o mesmo lugar. As coisas mudam mesmo, não é? Às vezes com essas mudanças, até mudamos o coração de casa, o pensamento de destinatário e nós mesmos de endereço. Sei lá, é uma coisa louca pensar no tempo e entrar em desespero por ver tudo o que você sente ficando pra trás, não tem como não se nostalgiar, lembrar, sentir e amar. Nesse tempo todo algumas histórias começam, outras terminam e tantas outras recomeçam. É ciclo involuntário, que não para, que não fere, mas que roda, roda, roda, roda e roda até passar e repetir tudo novamente pra cada um tentar se encontrar como bem quiser e desejar.

No tempo, algumas histórias, as mesmas histórias, se reencontrando no mesmo lugar. Algumas pessoas, as mesmas pessoas lutando por sentimentos jamais esquecidos, que jamais vão mudar. No tempo em que eu era tudo pra você. No tempo em que você era tudo pra mim. No tempo em que éramos. Fomos. Tão bonito. Mas não mais, o tempo passou pra você. E pra mim? Não passa, não modifica. Permanece e se renova todos os dias, não dá pra mudar. As relações mudam, as prioridades também. Vamos crescendo de pouquinho em pouquinho na tentativa de ser -e por que não encontrar?- alguém.

O tempo passou.
Mas o sentimento ficou e, sempre, ficará.

Assino, com carinho.
Unforgettable

domingo, 14 de novembro de 2010

Quando.


Quando você ainda estava aqui, a felicidade era constante, os sorrisos radiantes e eu não conseguia disfarçar o quanto tudo transbordava dentro de mim. As mãos que suavam, as palavras que gaguejavam, os olhares que se encontravam, os corações que se permitiam. Acordar cedo aos finais de semana eram dádivas por saber que te encontraria naquela mesma praça, naquele mesmo banco e até mesmo naquela mesma esquina de expectativas onde o ônibus parava e eu ficava, ansiosamente, te esperando.

Eram bons tempos, bons sentimentos que nunca havia sentido antes e que sei que não sentirei novamente. Ficou com você tudo aquilo que eu sinto permanentemente: o desejo, a saudade, a vontade e os momentos. Eu não podia mais resistir, eu não conseguia por mais que eu soubesse que, agora, talvez seria a hora de resistir e descruzar os nossos caminhos. Eu não podia e eu não queria fazer a minha vida longe de você que eu tanto estimava, estimo e quero por perto, de alguma forma, todos os dias. A minha única certeza, você, que me acompanha, me lança pra onde bem quer e como bem entender.

Quando você foi embora, eu entendi e não insisti pra que você ficasse. Eu poderia ter o feito, mas soube que você precisava partir, ir, fugir não sei pra onde e me deixar com todas as incertezas do mundo, sem saber se você voltaria pra mim. Quando você se foi, minha máscara caiu, meus sorrisos sumiram, minha felicidade deu a impressão de que nunca existiu. Eu sequei e amarguei. Nada fazia muito sentido, eu não sabia mais como. Também não fazia questão de saber, porque nada do que eu vivia, e do que vivo, tem você. Então, que diferença faz saber?

Eram maus tempos, ressentimentos que não me -e não te- abandonavam. O peso do erro, a fúria da culpa, o incomodo do arrependimento. Tudo me testava, tudo me colocava frente a frente aquilo que eu nunca soube lidar, que eu deixei passar e não consegui acompanhar, nem mesmo consertar. Eu não podia mais continuar aqui, eu não sabia mais como seguir sem você comigo, meu destino, meu instinto. Você era, e ainda é, o meu sentimento mais bonito, mesmo que tudo isso, agora, só me faça sentido.

Quando você foi embora, a única certeza que eu tive e que me acompanha até hoje é a de que você realmente foi embora, com tudo aquilo que eu também queria ir. Você foi, e eu fiquei aqui com a certeza de que, pra você, era, é e continua sendo o fim da nossa história, sem volta.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Das cinzas às letras.


Das cinzas do amor às letras da vida. Quem disse que o amor não é extremo algumas vezes, nunca experimentou a fundo essa alegria. É estranho! Quando sentimos amor - mas aquele amor bonito mesmo -, a gente se queima inteirinho por dentro e ao mesmo tempo esfria. Sente medo de perder em um segundo, mas no segundo seguinte se esquece disso e segue de acordo com a melodia que o outro trilha. Amor é furacão na maior parte do tempo: chega junto com a paixão, devasta e fere mas depois de um tempo passa, acalma e se torna alicerce.

Das cinzas daquilo que vivi e perdi às letras do que eu escrevo e me muero a cada dia que eu lembro o quanto o amor já me queimou um dia. É, durante anos, anos e anos me queimava todos os dias, e era bom. Tão bom que a pele ficava mais bonita, amorenada. O rosto demonstrava uma alegria durante alguns meses que qualquer pessoa, ao ver, se incendiava. Dava gosto de amar, queimar e depois se apagar só pra repetir o mesmo ato novamente no minuto seguinte. Nem o Sol era capaz de repercutir internamente aquela queimação gostosa na boca do estômago, seguida de enjoo e conforto por ter onde repousar -ao lado daquela(a) que queimava junto com a gente, do mesmo jeitinho-.

Das cinzas sobraram um amor tão bonito. Foi bonito. Queimou tanto e com tanto carinho que mesmo em meio há tantos tantos erros, ele renascia mansinho, quando eu menos esperava, quando você menos cogitava. Amor não morre, mesmo quando a gente tenta matar ele ressuscita. Independe de qualquer vontade que a gente tenha porque o coração abriga com a própria vontade e alegria. Se transforma em vida, mas não na nossa vida. Das letras sobraram a saudade de um amor tranquilo e insubstituível, do qual eu não esqueço e sempre revivo, dentro de mim, mesmo quietinho. Em segredo, essa é a palavra certa porque o meu amor não é capaz de te queimar como já queimou um dia e o seu amor, em mim, por mais que ainda queime, eu desfaço e congelo.

Das cinzas do seu amor às letras da minha dor.
Somos eu e você em estados diferentes, sentindo a mesma coisa mas fingindo que não.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Era a vontade.


Era a vontade de viver melhor que a impulsionava ir adiante. Não havia tempo suficiente pra continuar se, e também, perdendo. Estava na hora de ganhar, de encontrar, ou até mesmo construir, o seu lugar. São processos difíceis de se entender quando a única palavra que você tem é aquela que chamam de "desacreditar".

Era a vontade de superar seus medos e deixar erros cometidos pra trás que a fez trilhar um novo começo, batendo de porta em porta e distribuindo aquilo que existia de melhor dentro de si: a vida e o que aprendeu com todos os tropeços. São reconhecimentos fáceis quando pensamentos negativos, que pairavam em sua mente, deram lugar a pensamentos mais contentes, persistentes e coerentes. Não era mais possível se lamentar, não havia mais tempo pra isso.

Era a vontade de fazer e acontecer que mudava tudo à sua volta. Não havia tempo pra desesperança, era mais do que preciso idealizar, projetar e realizar. A responsabilidade de assumir o que se era vinha à tona, não daria mais pra esconder, não tinha motivos pro mesmo acontecer... Tinha que crescer, entender, compreender e viver. São lógicas proibidas quando você sabe que ser gente grande não é fácil e que muitas pessoas acabam pequenas por não aguentar a pressão do que é o amadurecer em geral.

Era a vontade de amar que a fazia ter todas as outras vontades acima. Amar a si própria, a família, os amigos e tudo aquilo que poderia conquistar ao longo de toda a sua vida, tão pequenina ainda. Sabia que as coisas aconteceriam por si só e em seu tempo. Era a vontade de amar o mundo, as pessoas e a poesia que a fazia permanecer acreditando que...

Quando não se tem amor, não se tem mais nada.

domingo, 7 de novembro de 2010

Quebra-cabeça.


Procurei durante muito tempo a peça de um quebra-cabeça que eu nunca consegui montar. Não sabia onde ela tinha ido parar, se era embaixo do sofá, atrás da porta, dentro do armário ou em qualquer outro lugar. A casa era enorme e o mundo a minha volta também, qualquer um poderia ter pegado e jogado fora - como eu também -. Não sei dizer, mas eu queria mesmo encontrar.

São inúmeras as possibilidades que me fazem pensar onde é que eu enfiei essa peça ou onde a enfiaram preu não encontrar. Mesmo sem ela, tentei montá-lo. Passei dias, meses e anos pra colocar cada peça em seu lugar. Algumas demoraram se encaixar, outras nem tanto -se encaixaram com tanta facilidade que dava orgulho admirar-. Mas a que faltava, essa tinha um peso gigantesco. Nada poderia ser completo com aquele lugar vazio, que me confundia e não me deixava pensar no que eu poderia colocar ali para substituir e o completar.

Fui desistindo depois de um tempo. Deixei o quebra-cabeça pra lá porque descobri que nada poderia suprir o lugar daquela que faltava, que eu não encontrava e não iria mais encontrar. Puxei na memória todo e qualquer lapso de onde ela poderia estar: nas gavetas dos erros, nos degraus dos deslizes, no parapeito da janela de decepções, embaixo da cama da confiança, na escrivaninha do arrependimento, na carteira do coração, no armário da solidão. Depois disso, descobri que a peça tinha sumido por si só, por não aguentar todas as outras peças que eu precisava ter pra completar todo esse percurso pra chegar até ela. Decepcionei na mesma velocidade em que machuquei, rasguei, esqueci e mandei pra longe a única coisa que me faltava pra ser feliz.

O quebra-cabeça que tanto me refiro, sou eu e a minha vida.
E a peça que eu também me refiro, é você e a minha alegria.

Que se foi.
Que se foram.

Não sei pra onde, mas eu sei o porquê.

sábado, 6 de novembro de 2010

Liberta.


A gente se aprisiona, o tempo todo, seja por nossa vontade ou por coisas que a própria vida julga poder ser e fazer parte da nossa alegria. A gente se apega, diariamente, em emoções que podem durar uma vida inteira e fazer toda a diferença ou até mesmo naquelas que mudam repentinamente em segundos, que são denominadas o cúmulo.

Acreditam por aí que emoções longas exigem mais de nós mesmos, de nossos corações cansados de esperar cotidianamente por algo que faça alguma coisa mudar ou sair do lugar. Outros acreditam que dar uma pausa nisso tudo e se permitir a sentir pequenos sentimentos, fazem a gente ter a certeza do quanto aquele sentimento grande, anteriormente citado, é importante em nossas vidas. Uma espécie de combustível em tudo aquilo que pode, sem sombra de dúvidas, te encantar o tempo todo, em seus vários aspectos, mesmo que despertos.

Temos o costume de nos prender em velhas -e por que não boas?- emoções. Somos incapazes de nos libertar de um passado que já não faz mais tanta questão de ser presente e muito menos futuro. É passado, já passou e tentar carregar esse fardo nas costas é o mesmo que tentar puxar alguém de uma areia movediça que já se afundou. É bom se prender em alguma coisa, em alguém. Desde que esses mesmos fatores pensem e sintam as mesmas coisas que você. Questão de querer não somente dividir, mas SE dividir também já que o mundo anda tão egoísta e ninguém é capaz de pensar dessa maneira porque acha uma grande besteira.

Ontem li algo de alguém que dizia que sou jovem demais pra me prender em alguma coisa. Que ainda viverei muitas coisas, pessoas, momentos e algumas loucuras que ficarão guardadas dentro da memória que chamo de bolsa - encontro tudo lá dentro -. Acontece que se sentimentalismo dependesse de idade, seríamos inteligentes o suficiente pra nos apaixonarmos depois dos 30 porque, talvez, com mais maturidade a gente consiga entender que algumas coisas e pessoas não passam, por mais que a gente deixe passar e por mais que elas queiram passar. Algumas sempre ficam, ocupando seus respectivos lugares.

É difícil não se prender, ou não querer se prender. Mas ainda assim é mais difícil se desprender quando a outra pessoa não sente vontade de te fazer permanecer ali. É como soltar um passarinho, que sempre esteve em sua gaiola, pro mundo: ele nunca saberá pra onde ir, porque não haverá um ninho pra o acolher.

Você abriu o meu cadeado e se libertou. Eu abri o seu cadeado e não saí do lugar. Não tenho a garra de um grande e bonito gavião pra encarar o mundo lá fora como você, porque, por mais grande que eu tente ser, eu ainda sou um passarinho, mesmo com toda a vontade de ser passarão, em meio há tantos muros, multidão, solidão e coração.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Por vezes.


Por vezes, tive vontade de viver melhor, fazer melhor, ser melhor. Os corretos também erram, os moralistas também pecam, os idealistas também falham e são criticados ao longo da vida. Quando alguém que nunca errou, erra, fica impossível dá-lo uma segunda chance. Nunca esperamos que eles errem, a decepção é mais que certa quando isso acontece e esquecemos do quão humanos eles são, assim, iguaizinhos a gente.

Por vezes, tive vontade de mudar e deixar de me adaptar. Mudar mesmo. De vida, de corpo, de fisionomia, de perspectiva. Traçar novos objetivos, ver a vida de um jeito mais realista - que nem sempre significa mais alegria, mas ainda, assim, tem -. Quando alguém que nunca errou, erra, se forma uma barreira entre o erro cometido e a vontade de nunca mais errar. É como conselho de mãe: "Menina, amarra esse sapato pra não tropeçar!". Dava medo continuar errando. Era tanto medo que errava antes mesmo de pensar.

Por vezes, tive vontade de chutar o pau da barraca e essa coisa toda que todo mundo faz quando sente vontade de extravasar. Pirar. Nocautear a vida no golpe certeiro de um ninja, na delicadeza de uma bailarina ou no conhecimento de um hari krishna. Sei lá! Surtar. Sair sem rumo. Correr, correr, correr e correr, sem saber pra onde, sem saber pra quem. Se cansar, sentar pra repousar e ver a nuvem se formar, avisando que vem chuva grossa por aí pra limpar a alma e purificar o ar. Sem se preocupar, viver com menos responsabilidade, mas com muito mais amor e bons sorrisos pra adoçar.

Por vezes, tive vontade de tantas coisas. Foram inúmeras. O mesmo pensamento, o mesmo sentimento por tantas vezes quando eu te via passar. Quando eu te vi caminhando ao meu encontro: olhos brilhantes, sorriso no rosto, andar errante, de braços abertos prontos pra me abraçar. O coração palpitava, não parava de acelerar.

Por tantas vezes, tive vontade de falar que era você quem eu tanto amava - que amo - e  que continuava a esperar.