São noites mal dormidas. Péssimos hábitos. Apegos com a rotina. É essa coisa de assaltar a geladeira de madrugada, quando a fome de alguma coisa - ou alguém - bate e não pode ser completamente suprida. Eu sei. A gente sempre sofre um pouco, rói a unha e fica roendo, roendo, roendo, roendo e às vezes nem percebe que machucou e que fez ferida. É difícil tirar do foco o que sempre foi ele. É difícil tornar você, que eu tanto quis e sonhei, como algo um pouco mais morno para não te assustar e não me assustar também.
É tudo tão antigo e ao mesmo tempo tão novo. Tenho vontade de contar todas as coisas que aconteceram comigo em todos esses anos que nos afastamos, mas é muita coisa. Também sinto uma vontade incontrolável de te fazer milhões de perguntas, ficar com medo de cada resposta sua e mesmo assim querer saber de você o tempo todo. São muitos sentimentos indefinidos por aqui e outros tantos tão definidos quanto a sua existência dentro de mim, quanto a minha existência dentro de você.
De qualquer modo, aqui é como um osso que sempre esteve fraturado e que agora está exposto a todo esse mundo novo que temos descoberto a cada dia relembrando todas as coisas feias ou bonitas que passamos, assim como nos permitindo a sentir todas as outras coisas que não conhecemos e que podem ser lindas e findarem nesses olhos tão grandes, tão lindos, de menina-desprotegida-que-não-sabe-o-que-sente-direito-a-não-ser-uma-enorme-alegria-de-estar-perto-de.
Sinto um sono terrível, mas a insônia não me deixa. Uma forma de me manter ligada aquilo que eu não quero mais me desprender. Quando o assunto que ronda a minha cabeça se trata de você, as circunstâncias mudam, o sono espera, o cigarro demora mais para acabar e tudo porque você tem o poder de mover meu mundo inteiro em um estalar de dedos: Clack! Esse é o seu momento. Clack! Esse é o nosso momento tão certeiro, embora incerto, quanto o sentimento mais verdadeiro do mundo: o amor.